Já falei aqui sobre o conceito do Uncanny Valley (O Vale do
Estranho, ou da Estranheza), muito adotado quando se discutem reproduções
animadas de seres humanos. O termo tem origem no famoso ensaio de Freud, Das
Unheimlich ("The Uncanny", "O Estranho"), de 1919, onde ele examina “coisas,
pessoas, impressões, eventos e situações que conseguem despertar em nós um
sentimento de estranheza, de forma particularmente poderosa e definida”. Logo
no início Freud cita um ensaio de 1906 de E. Jentsch, segundo ele a única
abordagem prévia sobre o tema.
Diz Freud: “Jentsch tomou como ótimo exemplo ‘dúvidas quanto
a saber se um ser aparentemente animado está realmente vivo, ou, do modo
inverso, se um objeto sem vida não pode ser na verdade animado’; e ele
refere-se, a esse respeito, à impressão causada por figuras de cera, bonecos e
autômatos engenhosamente construídos.”
Foi certamente essa menção inicial que deixou essas criaturas
artificiais, para muita gente, como os melhores símbolos do Unheimlich.
O conceito de Uncanny Valley foi criado para indicar
principalmente essa zona crepuscular em que andróides ou bonecos nos dão a
impressão de pessoas reais e isso nos produz uma sensação de inquietação,
desagrado, ou até repulsa. É diferente de quando vemos uma representação
pictórica perfeita: elogiamos a técnica, dizemos que “parece uma pessoa”, mas
em nenhum momento aquela tela nos inquieta ou ameaça. Autômatos ou bonecos, no
entanto, envolvem uma representação completa do corpo humano, inclusive gestos
com as mãos, expressões faciais, sorrisos, o modo de piscar os olhos. E isso
produz a sensação do Unheimlich.
No
Japão existe uma convenção, o Wonder Festival, para exibição de andróides desse
tipo. Na convenção de fevereiro passado, o laboratório A-Lav exibiu Asuna, uma
andróide que imita uma garota de 15 anos, sorri, move os olhos. (Aqui: http://tinyurl.com/q55hk67).
A impressão de realidade é aumentada pela textura da pele, que é macia e
flexível (embora fria).
4 comentários:
O escritor Daniel I. Dutra escreveu o livro de contos, "A Eva mecânica e outras histórias de ginoides", em que especula como seria o mundo em que as bonecas sexuais se tornassem uma realidade.
O Gigolo Joe/Jude Law de A.I. Inteligência Artificial do Spielberg tbm entra nesse rol. Lembro que a composição do robô/garoto de programa revela interessante ambiguidade entre atração/estranhamento. (Abr)
OPS, Braulio: o anônimo acima sou eu, Fraga.
Indiscrições?
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