quinta-feira, 23 de abril de 2015

3795) Contracapa de Instagram (23.4.2015)



escrever uma prosa que se choca com o osso e nem toca a pele  &  tem pessoas que tratam a gente como poupança, na hora em que precisar sabe que vai ter  &  as grandes cidades estão cheias de viajantes-no-Tempo analfabetos, em busca de emprego  &  nenhum aprendiz deixa de ser aprendiz quando se torna um mestre  &  o pulo do gato o leva à terceira margem do rio, assim como o salto do cavalo o liberta da Planolândia  &  os idealizadores dos bulevares temiam a guerrilha em surdina e não contavam com o estouro do vândalos  &  o mundo piscou o sol e de repente era outro dia  &  o alquimista está para a Química assim como o físico quântico está para a Física  &  torcer contra a Copa e torcer pela Seleção exigem que o cérebro vire um anel-de-Moebius  &  tem gente que pega o ônibus errado e fica teimando que o motorista não sabe o caminho  &  um aborígene reunindo toda sua coragem e bebendo da água de um poço ainda sem nome  &  o cinema é a domesticação do relâmpago  &  tenho medo de qualquer animal pequeno demais para eu montar nele  &  um casal são dois abismos abraçados, cada um com medo de cair dentro do outro  &  tem gente que brada pela ética, considera o dever cumprido e cai na gandaia  &  melhor do que ser titular é ser o reserva que entra no fim e decide  &  “catarse” é quando todos os espectadores de uma peça de teatro assoam o nariz ao mesmo tempo  &  tem aumentado a demanda de perucas com cérebro acoplado  &  tão mal camuflado quanto um submarino amarelo  &  preciso de um espelho quebrado que todo dia de manhã faça jus aos meus cacos  &  a aparência é uma parte da essência, mesmo quando se esforça para ser seu contrário  &  há momentos em que o equilíbrio geral de uma situação importa mais do que a aplicação localizada de uma virtude qualquer  &  quando a gente vê alguém que sempre acerta começa a achar que ele acerta sempre  &  simbolismo é ver uma imagem extraordinária e usar a retórica para transformá-la num conceito banal  &  um rio é tudo quanto acontece entre a nascente e a foz  &  eita, Brasil, parece que vem por aí mais meio século de divã  &  como diria Neném Prancha, pena de morte é uma coisa tão séria que o carrasco deveria ser o Presidente da República  &  o mundo é um oceano de idéias esperando que a gente abra os olhos e os ouvidos para invadir a mente  &  a Pátria é a peleja dos sem teto contra os sem limite  &  se bons sentimentos produzissem boa literatura minha avó tinha ganho um Prêmio Nobel  &  imaginei um exército de galinhas carnívoras e pensantes adentrando a cidade, e desimaginei rapidinho  &  tem veneno que você só percebe quando toma a derradeira dose  &




Um comentário:

Caio Girão disse...

É, isso é a modernidade, a alienação pelo virtual, a celeridade de tudo,de saber, de conhecer e ficam apenas cacos, partes pequeninas de um todo sem coerência. E assim é a mente, acidentada, mordida por tudo que está ao nosso redor - até pelo que não está.