quarta-feira, 9 de outubro de 2013

3312) O Mágico e o Fantástico (9.10.2013)




(by Alexander Johansson)


Existem dois termos que a imprensa literária usa de modo intercambiável: “Realismo Mágico” e “Realismo Fantástico”. 

Eu acho que os dois exprimem coisas muito diferentes, acho que são usados de maneira irrefletida e confusa, e para aclarar essa confusão proponho a classificação abaixo.

O “Realismo Mágico” é aquele tipo de narrativa literária em que uma história aparentemente realista na sua descrição de ambientes e de personagens inclui também elementos impossíveis de acontecer, mas que obedecem a uma lógica emocional da própria narrativa. 

Exemplos clássicos são Cem anos de solidão (1967) de Garcia Márquez ou Midnight’s Children (1980) de Salman Rushdie. 

É um tipo de história característico de culturas em que um verniz europeu (cientificista, cartesiano) se sobrepõe a uma medula indígena ou milenar (dominada pelo pensamento mágico), o que dá origem a essas infiltrações. Predomina na América Latina mas também tem versões próprias nas literaturas orientais: Índia, China, Japão. O romance e o conto (ou seja, as prosas de ficção) são o seu território principal.

O “Realismo Fantástico” é algo próprio da prosa de não-ficção: o ensaio (ou pseudo-ensaio), a reportagem especulativa, o jornalismo investigativo voltado para assuntos misteriosos e controvertidos. 

Os melhores exemplos de realismo fantástico são os livros O Despertar dos Mágicos (1960) de Pauwels & Bergier (que usa esse termo em seu subtítulo) e Eram os Deuses Astronautas? (1968) de Erich von Daniken, que têm como precursor ilustre O Livro dos Danados (1919) de Charles Fort e a série Believe it or Not (1919) criada por Robert L. Ripley. 

Neste caso, não se trata de romances de ficção, e sim de explorações semi-jornalísticas de fatos inexplicados, curiosos, insólitos, absurdos. Para essas obras, o termo “mágico” não se aplica muito, porque ele não exprime a presença de uma visão mágica do mundo, e sim a mera existência de fenômenos extraordinários que o nosso “realismo” ainda não aceita: extraterrestres, criaturas fantásticas, conspirações, pseudo-ciência, etc.

A principal distinção entre os dois, contudo, é o fato de que o primeiro é composto de literatura de ficção, e o segundo de textos de não-ficção. 

O Realismo Mágico conta histórias assumidamente inventadas pelo seu autor, as quais, como toda obra literária, oferecem uma visão pessoal e profunda da condição humana. 

O Realismo Fantástico apresenta discussões factuais sobre assuntos controversos, geralmente propondo uma versão um tanto fantasiosa dos fatos, o que bastaria para classificá-lo como uma espécie de “jornalismo imaginativo” ou de “ensaística da imaginação”.








3 comentários:

Fábio disse...

Realismo mágico, Nonsense, Surrealismo, eu acho super interessante quando um texto consegue trabalhar com um dos três citados.

Kadu Mauad disse...

Licor de Dente-de-Leão, Ray Bradbury se enquadraria em qual gênero ficcional? O Realismo Fantástico, por exemplo? Porque ele narra fatos aparentemente prosaicos de uma forma fantasiosa. O mundo filtrado pelos olhos de um garoto-ele, Douglas Spalding, no verão 1928, depois de tomar consciência de que ele "estava vivo".

Flávio disse...

O que é bom, pode mandar que eu traço.Eu sou plural.Agora Braulio,vê se tu posta todo dia,que essa crônica eu li ontem.Eu elogio,mas também dou lapada!