Era tia-avó da minha esposa, e morava
sozinha num casarão, numa capital nordestina cujo nome não preciso revelar.
Quando tive que deixar São Paulo e passar uma semana lá, para trabalhar numa
auditoria, minha mulher telefonou-lhe sem me consultar e as duas resolveram que
eu me hospedaria na casa dela (a tia aproveitaria para me conhecer e, segundo
minha mulher, “dar a nota”). Ficar na casa de uma pessoa de 70 anos não estava
nos meus planos. Não que pretendesse cair na farra. Mas depois de um dia duro
de trabalho, discutindo, argumentando, a única coisa que me interessa é tomar um
banho, e depois dois uísques, sozinho, em silêncio, na beira da piscina do
hotel. Mas esposa é esposa, e lá fui eu.
Dona Frederica me surpreendeu,
não apenas por aparentar bem menos idade, mas porque na primeira noite em que
voltei encontrei-a escutando música diante de uma garrafa de Dimple e um balde
de gelo. Sentei ao lado e enveredamos numa longa cadeia de associação de idéias
envolvendo boleros cubanos, orquestras tropicais e a arte da dança de salão,
que ela me confessou não praticar há vinte anos, desde a morte do marido. Na
segunda noite lá estava o Dimple, e desta vez conversamos sobre horóscopo, tipos
psicológicos; ela contou “causos” saborosamente escabrosos ocorridos com amigas
de juventude. Na terceira noite, Dimple e cinema (ela adorava musicais da
Metro).
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