terça-feira, 26 de julho de 2011
2618) A bola não quis entrar (26.7.2011)
Assisti somente o 2º. tempo da decisão da Copa América, quando o Uruguai derrotou o Paraguai por 3x0 e tornou-se merecidamente o campeão. Foi uma final disputada entre o time que tirou a Argentina e o time que tirou o Brasil, de modo que o resultado confirmou o momento difícil vivido pelas duas principais seleções do continente. O Uruguai, a terceira força, se impôs com um futebol competitivo, fechado, veloz no contra-ataque, jogado com a raça habitual e com a técnica que o futebol uruguaio tem, mas que às vezes é suplantada pela raça, a ponto de esta se transformar em truculência e botinada.
A raça, quando entregue a si própria, vira botinada; a técnica, quando entregue a si própria, vira salto alto. Foi este o caso da Seleção Brasileira, que oscilou entre a apatia autoconfiante (“O gol vai sair naturalmente”) e a perplexidade esbaforida (“Que saco, esses caras que não jogam nada não estão deixando a gente jogar!”). Já vimos esse filme, não é mesmo? A Seleção Brasileira só é ela mesma quando consegue, além de administrar os poderosos fatores extra-campo, encontrar dentro de campo esse equilíbrio ideal entre vontade e capacidade, entre a disposição de buscar o gol e a competência para fazê-lo. Não ouvi nesta Copa América a inevitável frase dos nossos atacantes, “a bola não quis entrar”, mas certamente ela foi pronunciada. Se o Brasil não tivesse trazido nenhuma outra contribuição ao futebol, bastaria essa frase, exemplo perfeito da fuga à responsabilidade, para inscrever nosso país (de uma maneira não muito recomendável, concordo) na história do esporte.
A verdade é que alguns times, mesmo que não saibam produzir pedaladas ou dancinhas comemorativas, sabem fazer com que a bola entre. O Uruguai meteu três gols no mesmo Paraguai que bloqueou o Brasil durante 120 minutos e quatro pênaltis. O terceiro gol, no último minuto, foi uma pintura, pelo contra-ataque, pelo lançamento, pelo passe de cabeça de Suárez que encontrou Furlán um segundo antes de estar impedido, e pela conclusão firme deste, colocando a bola rente à trave, e dando a impressão, até o último segundo, de que ela não entraria. Ela deu toda a pinta de que não queria entrar, mas ele soube fazer com que ela lhe obedecesse.
O Brasil está decadente e nossos jogadores são medíocres? Que nada, o time é razoável, o técnico tem princípios que merecem confiança. A questão é que neste Mercosul do futebol o Brasil só entra em campo com ares de prima-dona. Antes do jogo a imprensa já pergunta aos atacantes se haverá pedalada, se haverá dancinha, como vão comemorar os gols, e os jogadores respondem, dando o gol como coisa certa. Enquanto isso, os adversários treinam para fazer com que a bola brasileira não queira entrar, e não sei que conspiração malévola é essa que mesmo com quatro pênaltis a condenada da bola não entra!... Não sofremos mais do complexo de viralata de que falava Nelson Rodrigues; temos complexo, sim, de “poodle” de madame.
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