segunda-feira, 20 de junho de 2011
2583) A badalação das celebridades (15.6.2011)
Semana passada a Seleção Brasileira se reuniu para dois amistosos, e o Globo do dia 3 anunciou no caderno de esportes: “Histeria por Neymar inaugura nova era na seleção brasileira”, comentando no corpo da matéria: “Natalle, Julliana, Noamy e Loyse, todas entre 15 e 17 anos, chegaram cedo, por volta das 9h, ao Hotel Castro, onde a seleção está hospedada em Goiânia. Barradas pelos seguranças, ficaram na porta, máquina fotográfica em punho, esperando Neymar”. É gozado como a imprensa adora a badalação juvenil. E pensando bem, também para um time de futebol é menos arriscado ser cercado por uma multidão de peruazinhas saltitantes do que por brutamontes de soco-inglês nos dedos reclamando que o time fez corpo mole.
A “nova era da Seleção” me lembra os tempos saudosos da Beatlemania, os quatro cabeludos correndo pela estação do trem, perseguidos por dez milhões de inglesinhas histéricas emitindo juntas um som equivalente ao de um milhão de turbinas de jatos da BOAC. Tudo muito divertido quando se tem vinte e poucos anos. Mas acabou cansando. George Harrison disse: “Me recuso a continuar subindo num palco para tocar música e não conseguir escutar o que estou tocando. I Feel Fine no show de ontem ficou horrível”. E Paul: “Oi, e tocamos I Feel Fine ontem?”. Em 1965 eles acabaram sua “nova era” do rock, trancaram-se num estúdio e se tornaram Os Beatles, pra valer.
É engraçado. No dia 7 de junho o mesmo Globo fez uma matéria sobre os 80 anos de Cauby Peixoto, “famoso no passado pelas estratégias de marketing de seu empresário Di Veras, que arranjava moças para desmaiarem diante do cantor (‘Só uma desmaiou de fato’, diz Cauby hoje) e rasgarem roupas já preparadas para este fim”. Não tenho dúvida de que as “macacas de auditório” de Cauby também inauguraram uma nova era na música brasileira.
E assim, meio serendipiciamente, esbarrei nesta página (http://tinyurl.com/3tu8q95) que comenta a histeria coreografada das fãs de Frank Sinatra após 1943, quando ele contratou o publicitário George Evans para planejar o tumulto das fãs. Evans dava 5 dólares a cada garota e as instruía cuidadosamente sobre o tipo de grito que deveriam emitir, e em que momento (sempre quando a canção subia de volume, nunca nos trechos mais intimistas). Treinava algumas garotas para gemerem em uníssono, e outras para desmaiarem nos corredores do teatro ou onde quer que houvessem fotógrafos por perto. .
Como se vê, a era Neymar não é tão nova assim. É velha a arte de manipular a libido de mocinhas saturadas de hormônios eufóricos. No mundo pop, sucesso é sinônimo de fotos autografadas e mocinhas gritando. O modelo do mundo pop é a herança maldita do século 20. Aguardem o noticiário da Flip ou das demais festas literárias. A imprensa mostrará escritores autografando a blusa de jovenzinhas incapazes de ler mais de 140 caracteres, e anunciará que isto inaugura “uma nova era para a literatura brasileira”.
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