terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

2482) “O Rei e o Baião” (17.2.2011)



Livros sobre a vida e obra de Luiz Gonzaga existem muitos; desde pesquisas acadêmicas até memórias na primeira pessoa, redigidas por ghost-writers. Me atrevo a dizer que nenhum desses livros até agora conseguiu ser tão bonito quanto O Rei e o Baião, editado por Bené Fonteles (Brasília: Fundação Athos Bulcão, 2010). Não que a substância, o texto do livro seja algo para se descartar, pelo contrário; mas a preciosa iconografia do livro é a primeira coisa que bate no olho da gente. É quase como fazer um passeio por um dos muitos Museus Luiz Gonzaga que existem no Brasil, com o do guerreiro José Nobre, em Campina Grande.

Começo pelas fotografias de Gustavo Moura retratando aspectos do Sertão e do Cariri: caatingas, várzeas, vaqueiros, meninos, tocadores de fole. Os paraibanos já conhecem o trabalho de Gustavo, mas neste livro, suas fotos, justapostas à história de Gonzagão, enriquecem o poder de evocação das paisagens descritas nos versos. O mesmo vale para as séries de belas xilogravuras de José Lourenço, João Pedro do Juazeiro, Francorli e Carmen, além de outros gravadores (que contribuem uma xilo cada um). Como já falei nesta coluna, o cordel é, como a música de Gonzaga, a junção ideal entre o oral e o escrito, o primitivo e o tecnológico. Folheto impresso é como disco prensado. É o modernismo abrindo uma brecha para a passagem do dilúvio do popular, e pense numa brecha que jamais se fecha de novo.

Os ensaios de análise e crítica dariam um excelente livro só de textos, e são assinados por Gilberto Gil, Bené Fonteles, Antonio Risério, Elba Braga Ramalho, Gilmar de Carvalho, Sulamita Vieira e Hermano Vianna. E Bené, o idealizador e realizador do livro, fecha o volume com uma farta e minuciosa (a maior que já vi) iconografia gonzagueana, posta em contexto e comentada: fotos de juventude, fotos da carreira, dezenas de capas de discos, anúncios e “reclames”.

Meus leitores sabem que sou um sujeito contraditório. Vivo defendendo, nesta coluna, o barateamento do livro, as edições populares, os livros de bolso, a pulp fiction, o cordel, e mais recentemente os livros eletrônicos e as publicações internéticas – todos os formatos gráficos que multiplicam o texto literário e o deixam acessível a quem só tem centavos no bolso. Por outro lado, encanto-me com facilidade pelo livro primor-gráfico, o livro obra-de-arte. Como conciliar isto? Não sei. É um dos paradoxos do Brasil, o fato de que nossa faixa de compradores de livros se mantém sempre proporcionalmente a mesma, mas o mercado de livros de luxo não para de crescer. O Rei e o Baião é um livro que deveria ser espalhado pelas bibliotecas do país. Além de, depois, receber edições eletrônicas, em PDF ou formato semelhante, que o tornem mais acessível, porque os ouvintes de Luiz Gonzaga merecem ver uma homenagem tão bonita. Como prévia para o centenário de Seu Luiz, no ano que vem, não poderia haver coisa melhor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mestre Bráulio.
Realmente, O REI E O BAIÃO superou as espectativas. Da Bibliografia Gonzaguiana, deve ser a mais rica iconograficamente. De parabéns estão Bené Fonteles, pelo belíssimo trabalho, os admiradores da obra de Luiz Gonzaga e vosmecê pelo texto supra.
Saudações Gonzaguianas a todo(a)s.
Kydelmir Dantas
Mossoró - RN.