terça-feira, 29 de junho de 2010

2205) A estratégia da distração (2.4.2010)




Circula na Internet um documento atribuído ao linguista Noam Chomsky, um conhecido crítico das políticas dos EUA. Chomsky é uma espécie de Michael Moore do meio acadêmico, que investe como um tanque contra aquilo que a gente chama “o complexo industrial-financeiro-militar” do seu país. O documento que circula talvez seja apócrifo (não encontrei sinal dele em parte alguma na Net, em inglês), mas não importa. As coisas que diz ou são corretas ou são deflagradoras de um debate importante e necessário, pouco importa quem tenha sido seu autor original. O documento enumera “Dez Estratégias” usadas pelos governos atuais para impor suas políticas e manter a população sob controle, um controle ainda mais eficaz do que o das ditaduras, porque as pessoas não sabem que estão sendo controladas, e esse controle se dá de uma maneira aparentemente agradável para elas. É o que eu chamo a Ditadura do Chiclete, contraposta à Ditadura do Chicote. O primeiro item da lista diz:

“1) A estratégica da distração. O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

O século XX ensinou que a melhor maneira de evitar que a população tenha acesso a determinadas informações não é proibindo essas informações. Isso foi tentado por todos, desde Hitler e Stálin até nossa ditadura brasileira; e sempre existe uma minoria sólida, atuante e incansável que acaba dando um jeito de recuperar as informações proibidas e fazê-las circular. Muito melhor do que proibir é diluir. Em vez de proibir a obra perigosa de Fulano ou Sicrano, basta estimular a produção de obras de cem Beltranos (que dizem coisas parecidas, mas inócuas) e usá-las para fazer submergir as idéias indesejáveis.

O melhor lugar para esconder uma agulha não é num palheiro, é num agulheiro. Proibir a obra de alguém significa lançar sobre essa obra e esse autor os poderosos holofotes da atenção do Poder. Melhor aparentar desprezo por essa obra, e voltar os holofotes em outra direção. É possível até ceder a esses autores incômodos uma rádio, um canal de TV a cabo, com a garantia de que eles estarão diluídos no meio de 200 rádios e 200 canais dizendo coisas mais chamativas, mais sensacionais, menos problemáticas.



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