sexta-feira, 28 de maio de 2010

2082) “Distrito 9” (10.11.2009)



O filme sul-africano Distrito 9, em cartaz na Paraíba, é um mix de novidade e clichê, crítica social e cinema descerebrado. Tem sido elogiado pela crítica como uma revolução no cinema de ficção científica. Gostei do filme, com muitas ressalvas. Ao que parece, ele surgiu de um curta-metragem, cujo sucesso levou o produtor/diretor Peter Jackson a bancar a sua transformação num filme longo, com toda a estrutura. Talvez aí tenham começado os seus problemas.

Distrito 9 começa com uma imagem que, criada por Arthur C. Clarke em O Fim da Infância, rapidamente está virando clichê, tendo sido usada com mais impacto no famoso (e medíocre) Independence Day: uma imensa nave alienígena estacionada no espaço, imóvel e silenciosa, sobre uma grande cidade. No presente caso é Johannesburgo, a cidade do apartheid, e todo o filme é uma alegoria óbvia (mas não menos eficiente ou menos interessante por isso) sobre o modo como os negros foram tratados na África do Sul. Assim como ocorreu com eles, os alienígenas (que estão enfraquecidos, quase à morte) são recambiados para um curral-favela onde passam a morar.

A primeira metade do filme é excelente, resumindo uma situação complexa através de uma linguagem de jornalismo televisivo, com entrevistas, depoimentos, imagens de arquivos. Os ETs estão isolados numa favela na periferia da cidade, mas ninguém os quer por ali, nem mesmo os negros. O governo vai fazer a remoção dos milhares de ETs, derrubar seus barracos, para que eles vão morar num lugar bem longe, onde ninguém os veja – como nós aqui no Brasil tratamos os Sem-terra, os Sem-teto e outras espécies alienígenas.

Lá pelo meio do filme o protagonista, um típico “afrikaner” (descendente dos colonizadores brancos) se deixa contaminar casualmente por um líquido que encontra no barraco de um ET e começa a se transformar num deles, por um processo que não fica muito claro em momento algum. Isto empurra o filme para o reino da pulp fiction deslavada, onde a verossimilhança científica é o que menos importa, e os fatos acontecem de acordo com a conveniência dramatúrgica do autor. Daí em diante o filme vira um bang-bang comum, com perseguições, escapadas, tiros, muitos tiros, explosões, muitas explosões, e vai descendo pouco a pouco ao nível de um Independence Day ou Transformers qualquer.

É um mau filme? De jeito nenhum. Está cheio de pequenas sacadas brilhantes, de situações bizarras e plausíveis, de uma crítica social feita menos por ideologia do que por vivência, ou seja, uma crítica que se aprende a fazer nas ruas, e não nos livros. A narrativa da parte inicial mostra como é possível comprimir muita informação e um enredo complexo em pouco espaço; pretendo comprar um novo ingresso só para rever esta parte. Distrito 9 é excelente quando é um filme da África do Sul, e perde qualidade quando tenta ir atrás do que o cinema americano tem de mais bobo: tiros, muitos tiros, e explosões, muitas explosões.

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