quinta-feira, 20 de maio de 2010

2058) Bolívia 2x1 Brasil (13.10.2009)



O Brasil perdeu para a pálida Bolívia, depois de derrotar adversários mais fortes nas Eliminatórias e noutras competições recentes. Nosso time ficou acuado durante os vinte primeiros minutos, sem dar um chute a gol sequer. A Bolívia mexia-se completamente à vontade, e a Seleção não conseguia trocar dois passes seguidos, nem sequer dominar a bola. Os dois gols bolivianos foram feitos com relativa facilidade, em jogadas de bola parada em que até mesmo Júlio César parecia desarvorado, sem saber para onde ir.

Claro que a culpa foi da altitude, porque são 3.600 metros e ninguém consegue jogar futebol num ar tão rarefeito. O engraçado é que quando o Brasil ganha em La Paz todo mundo diz que “a técnica prevaleceu sobre a altitude”. Quando perde, começa o chororô e as campanhas para que a Fifa proíba jogos no alto da cordilheira.

Eu sou contra. Acho que tem que jogar em La Paz, sim, e se as condições são difíceis, azar de quem vem de fora e não é acostumado. Fazer chororô nas derrotas é normal, todo time faz isso. É como perder na chuva e botar a culpa no campo pesado, como se o campo fosse pesado apenas para o time que perdeu. O futebol é um esporte sujeito a chuvas e trovoadas. É um esporte ao ar livre, em que a imprevisibilidade do tempo e de outras condições pode influir. Faz parte do jogo. O time que perde pode se queixar, claro, mas não faz sentido pedir que se proíbam jogos na altitude.

Já vi fotos de jogos no Maracanã com o placar eletrônico marcando 47 graus. Se uma seleção russa ou sueca vier jogar na Copa de 2014, pode pedir à Fifa que jogos no Rio sejam proibidos, só porque eles não são acostumados a jogar com tanto calor? Todos nós estamos carecas de ver partidas disputadas debaixo de chuva torrencial, como aconteceu com Argentina 2x1 Peru neste mesmo fim de semana, ou entre Internacional x Flamengo dias atrás. Vamos pedir o quê à Fifa? Que proíba jogos em cidades onde chove muito? Que obrigue os clubes a cobrir os estádios?

Cada um tem que se virar como pode, nas circunstâncias dadas. Um jogo mitológico da minha infância foi o amistoso entre o Treze e o Dínamo de Bucareste, primeira vinda de um time europeu à Paraíba, em 1961. O jogo terminou 1x1, e me lembro que o comentários da época era: “os gringos sofreram com o calor no primeiro tempo, mas quando o sol esfriou, foram eles que deram um calor no Treze”. Jogar no calor ou jogar num frio de menos 20 graus são circunstâncias do futebol. Pedir que o jogo seja mudado de local porque o time visitante não tem hábito de jogar naquele ambiente é absurdo. Pedir que uma cidade seja interditada para o futebol, também.

O Brasil já ganhou inúmeras vezes em La Paz, com ou sem altitude. Pressões para tirar a cidade do mapa do futebol são compreensíveis, afinal cada um tem que procurar todos os meios legais de se impor aos adversários. Mas eu sou contra essas pressões. Se o Brasil é Brasil, tem que ir lá e jogar o jogo.

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