quarta-feira, 5 de maio de 2010

1997) Dante no Inferno (2.8.2009)



Falam que os jovens só querem saber de videogames, de banalidades, que abominam os livros e a cultura clássica. Quero ver a cara desse pessoal nas próximas linhas, quando ficarem sabendo por meu intermédio que no ano que vem será lançado o jogo Dante’s Inferno, para a plataforma Xbox 360, no qual (estou citando Tim Martin, num artigo em The Telegraph) Dante aparece como um anti-herói musculoso, abrindo caminho através dos Nove Círculos do Inferno com uma foice e uma cruz, para resgatar sua amada que foi aprisionada por Lúcifer.

Capturei na Internet uma prévia do que deve ser o jogo (em: http://tinyurl.com/cf9aug), que assim é descrito: “Os produtores do jogo revelaram que a história já havia sido adaptada para um game há um bom tempo. Afinal, converter uma trama de um ambiente como o Inferno de Dante para os games não é algo muito difícil, pois isso se resume a uma fórmula muito comum no entretenimento eletrônico: um herói vagando por locais perigosos e derrotando criaturas mitológicas (alguém se lembra de “God of War”?)”.

Ouvi agora um grunhido de dor, vindo da direção da Suíça. Acho que foi Jorge Luís Borges se revirando na tumba. Problema de Borges, que era refratário às coisas modernas, e criticava o livro de H. G. Wells A máquina do tempo por recorrer a uma máquina, e não a um tapete mágico. Mas o articulista explica mais: “Você deve estar imaginando: como Dante, que não é nada intimidador de acordo com a obra original, enfrentou a própria Morte e ainda roubou sua arma? Bem, a equipe adaptou Dante de acordo com os videogames, e o resultado é uma figura muito mais musculosa e poderosa do que a original, e com diversas habilidades. O personagem será capaz de executar diversas combinações de golpes através de um sistema de combo complexo que permite mesclar ataques fortes, fracos e aéreos.”

”A lâmina de Dante não será sua única opção para finalizar seus oponentes. O protagonista também poderá usufruir dos poderes de uma misteriosa cruz mágica, capaz de eliminar inimigos de maneira devastadora. Além disso, o herói é capaz de domar e pilotar feras gigantes. Para isso, é necessário, antes de qualquer coisa, eliminar o piloto original, algo que pode ser realizado através de minigames de contexto. Depois disso, basta subir nas costas de um dos monstrengos e aproveitar a viagem cuspindo fogo, pisando em seus inimigos e muito mais.”

Heresia, amigos? Sei lá. O Papa daquele tempo deve ter achado o poema de Dante uma heresia do mesmo tamanho. Um videogame baseado em Dante não deve ser heresia maior do que Proust quadrinizado, ou a Bíblia, escrita pelo Espírito Santo em pessoa, filmada por John Huston. Talvez, no futuro, jovens ansiosos por cultura clássica se debrucem sobre o jogo da Electronic Arts com o mesmo fervor com que os cristãos do século 20 assistiam O Rei dos Reis com Jeffrey Hunter no papel de Cristo. Há mensagens que resistem a tudo.

Um comentário:

Brontops Baruq disse...

...E o que dizer desta interpretação do Laerte de Dante?

http://verbeat.org/blogs/manualdominotauro/2010/04/dante.html

Abs