quarta-feira, 5 de maio de 2010

1998) “Solaris” (4.8.2009)



Participei, no cineclube da Casa da Ciência da URRJ, de um debate sobre o filme Solaris de Andrei Tarkovsky. A obra de Tarkovsky foi relançado numa coleção de DVDs em que os filmes são complementados por discos com entrevistas, documentários e o “making of” de algumas obras. O diretor russo, falecido há alguns anos, é autor de um livro de ensaios sobre cinema, já traduzido no Brasil, intitulado Esculpir o Tempo. É uma boa definição para seu cinema, que valoriza o tempo dos personagens, das paisagens e das ações. Seus filmes têm um ritmo longo e largo, que provoca impaciência nos espectadores acostumados ao cinema em que uma nova cena surge na tela de 15 em 15 segundos. Tarkovsky gosta de planos complexos, com lentos movimentos de câmara, organizados em função dos deslocamentos sutis de seus personagens por um cenário que traz revelações à medida que nosso ponto de vista se desloca.

Solaris é um dos meus filmes de FC favoritos, assim como o romance de Stanislaw Lem, que lhe deu origem, é um dos meus livros favoritos. Solaris é um planeta que, depois de descoberto, torna-se o alvo principal das investigações da Humanidade, pois é coberto por um oceano de plasma que dá todos os indícios de ser uma criatura pensante. Entre outras coisas, o Oceano é capaz de corrigir a órbita do planeta, que gira em torno dos dois sóis. Violando as leis da física, o planeta otimiza sua órbita em torno dos sóis como se fosse manobrado por alguém. Durante um século, milhares de cientistas viajam para Solaris, fazem pesquisas intermináveis, mas não conseguem se aproximar de algo que possa ser classificado como um contato com essa inteligência colossal.

Quando a ciência solarística já está decadente, no entanto, os poucos remanescentes na estação planetária descobrem que o Oceano é capaz de ler suas mentes e projetar, em forma de seres materiais, imagens colhidas em sua memória. E o protagonista, Kris Kelvin, reencontra em Solaris a imagem – em carne e osso – de sua falecida esposa, Harey, que se suicidara por sua causa, num ataque de depressão.

Solaris é um dos grandes símbolos do Desconhecido, do Misterioso e do Desmedido na ficção científica. Como possível repositório de um saber inconcebível, assemelha-se à Biblioteca de Babel, de Jorge Luís Borges. Como local gigantesco e inacessível, lembra o Castelo, de Kafka. O planeta de Lem/Tarkovsky é um dos “Grandes Objetos Mudos” que os personagens da ficção científica encontram em suas viagens pelo Cosmos – enormes espaçonaves à deriva, ruínas ciclópicas de civilizações desaparecidas, máquinas subterrâneas ocupando todo o subsolo de um planeta, estações espaciais onde caberiam milhões de pessoas... Tudo vazio, tudo indecifrável. Espaçonaves ou portais de teleporte que somente depois de décadas de estudo são compreendidos pelos humanos, e quando postos em funcionamento abrem para eles caminhos inimagináveis pelo Universo, como na série Gateway de Frederik Pohl.

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