domingo, 28 de março de 2010

1836) “O curioso caso de Benjamin Button” (27.1.2009)



Baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, este é o filme com maior número de indicações para o Oscar deste ano. É, surpreendentemente, dirigido por David Fincher, autor de filmes de suspense (Seven, Zodiac) e do famoso Clube da Luta, já comentado aqui, um thriller eficiente e muito bem feito, apesar de uns flertes com o machismo-fascismo. Todos esses muito diferentes deste filme longo, nostálgico, cheio de bons sentimentos e daquilo que hoje em dia se chama “lições de vida”. Fosse Benjamin Button dirigido por algum desses cineastas de auto-ajuda como Steven Spielberg, eu talvez o tivesse achado insuportavelmente açucarado. Sendo de David Fincher, é sinal de que a humanidade não está perdida.

Benjamin é um sujeito que nasce com 90 anos de idade e vai remoçando ao longo da vida. É uma premissa fantástica, que desorienta os críticos mais cartesianos, como Roger Ebert, o qual achou o filme um desperdício de talentos. Bobagem. É uma das premissas mais batidas da literatura fantástica, e o seu desafio está justamente em estabelecer logo de cara um traçado obrigatório para o filme e segui-lo sem deixar que o espectador boceje. Ou seja, com quinze minutos de filme a gente já sabe que o personagem vai remoçar. Cabe ao diretor e ao roteirista inventar coisas interessantes para lhe acontecerem durante o trajeto.

Eu tinha achado o filme muito parecido com Forrest Gump. O mesmo personagem fora do comum e simpático; o mesmo trajeto pelo mundo, ao longo de décadas; a mesma sensação de ver os fatos da História através dos olhos do protagonista; havia até mesmo algumas cenas quase idênticas, como uma tempestade no mar. E em seguida vim a descobrir que o roteirista dos dois filmes é o mesmo, Eric Roth, o que explica a extrema semelhança estrutural dos dois filmes, além do clima nostálgico, distanciado, conduzido por uma voz-guia que atravessa as décadas como quem conta uma história da qual só recorda algumas partes.

O filme é excelente no que se propõe, em parte pelas sucessivas reconstituições de época, pois a história vem desde a I Guerra Mundial até a destruição de Nova Orleans pelo furacão Katrina. A maquiagem consegue dois prodígios: transformar Brad Pitt primeiro num ancião e depois num rapazola. Cate Blanchett, como sempre, está magnífica. O roteiro de Roth me parece dever muito, também, ao estilo de escrever e filmar de Jean-Pierre Jeunet (Amélie Poulain), encadeando de maneira engraçada e engenhosa fatos irrelevantes, extraordinários.

Li em 1962 um contozinho de ficção científica sobre um planeta chamado Arret, onde as pessoas nasciam idosas, rejuvenesciam, e conseguiam, em seus últimos anos, reunir um máximo de experiência de vida e de energia física. O conto (não recordo o autor nem o título) ironizava o nosso mundo às avessas. Benjamin Button nos dá um vislumbre das belezas e das tristezas dessa vida ideal.

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