sábado, 30 de janeiro de 2010
1589) A Fundação e a Al-Qaeda (16.4.2008)
Duvido que alguém tivesse ouvido falar na Al-Qaeda antes do 11 de setembro de 2001.
O nome de Osama Bin Laden me era familiar – um daqueles terroristas obscuros que vez por outra eram enumerados num “Globo Repórter”. Quando as Torres Gêmeas vieram abaixo, o governo dos EUA agiu como a polícia carioca. Tirou da gaveta a lista dos “habituais suspeitos”, e escolheu o mais provável.
Bin Laden assumiu a autoria dos atentados. Eu também assumiria, se fosse acusado – perdido por um, perdido por mil. (Ademais, no mundo dos criminosos crime grande é sinônimo de Poder.)
De quebra, foi-lhe atribuída a chefia de uma misteriosa organização chamada Al-Qaeda, responsável, desde então, pela maioria dos grandes atentados que têm ocorrido, da Indonésia à Espanha.
Não passou despercebido, aos leitores de ficção científica do mundo islâmico (que são legião), que o romance Fundação, o clássico de Isaac Asimov, tinha sido traduzido em árabe com o título “Al-Qaeda”. É esse o significado do termo árabe: base, fundação, alicerce, pilastra, ponto de apoio, e idéias correlatas, tanto literal quando simbolicamente. (Na imprensa brasileira, “Al-Qaeda” é em geral traduzido como A Base).
A coincidência mais perturbadora, no entanto, é a que já abordei na coluna “A voz do morto” (28.1.2004). Bin Laden se comunica com o mundo da mesma maneira que Hari Seldon, o protagonista de Fundação: através de depoimentos gravados que seus seguidores fazem exibir em momentos estratégicos.
No caso de Hari Seldon, esses depoimentos (gravados há séculos, quando ele era vivo) servem como confirmações de sua teoria da Psico-História, uma ciência probabilística capaz de prever o desenvolvimento futuro da civilização. Duzentos anos depois de morto, Seldon reaparece no vídeo, dizendo: “Pelo que calculo, vocês devem estar enfrentando tais e tais problemas, de tal ou tal maneira. Aqui vão minhas instruções sobre o que devem fazer”. Perplexos e maravilhados com a precisão do diagnóstico, os governantes do futuro não têm saída senão seguir a receita.
Giles Foden tem um extenso artigo no “The Guardian” (http://books.guardian.co.uk/review/story/0,12084,779530,00.html) no qual faz uma fascinante análise dos paralelos entre terrorismo e FC. Uma conexão que eu desconhecia é a da seita Aum Shinrikyo, responsável pelos atentados com o gás “sarin” no metrô de Tóquio, em 1995.
Foden cita um jornalista japonês, e diz que o propósito da seita, inspirada na série Fundação, era “reconstruir a civilização após um cataclisma, e combater as poderosas instituições globalizantes que estão produzindo o apocalipse”. A retórica delirante de certos terroristas lembra muito a de numerosos vilões da FC, os tais cientistas loucos que querem dominar o mundo.
Será que a FC é uma influência nociva? Nada disso. Como raio-X do nosso inconsciente coletivo, a FC é um diagnóstico antecipado de tudo aquilo que já existe mas só vai se tornar manifesto daqui a décadas.
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