sábado, 30 de janeiro de 2010

1588) As fotos construídas de Lori Nix (15.4.2008)




Tenho um interesse especial pelos trabalhos artísticos que procuram reunir mais de uma técnica. Quando falamos em fotografia, por exemplo, a primeira coisa que nos vem à mente é um fotógrafo com a câmara na mão, caminhando por aí e registrando as coisas que vê à sua frente. Existe uma arte mista, no entanto, que consiste em criar objetos e fotografá-los. Preparar cenas, e fotografá-las; armar cenários inteiros, com os respectivos personagens, e fotografá-los. Não me refiro à fotografia publicitária ou de moda, mas a criações com intenção artística, reunindo elementos que parecem teatro, parecem modelismo ou arquitetura... e fotografia.

É o caso da artista Lori Nix, cujos trabalhos podem ser vistos aqui (http://www.lorinix.net/). Ela prepara cenários em pequena escala, cheios de objetos em miniatura, e depois os fotografa. Em seu saite há diversas séries: “A Cidade”, “Perdidos”, “Insecta Magnifica”, “Algum outro lugar”, “Acidentalmente Kansas”. Em cada série, fotos desses cenários em miniatura que causam espanto pela riqueza e exatidão dos detalhes. Em “A Cidade”, por exemplo, “Biblioteca” nos mostra o salão de uma biblioteca abandonada, as paredes cobertas de livros empoeirados, móveis caídos, árvores imensas crescendo no meio do aposento e projetando-se para fora pelas aberturas do teto em ruínas. “Aquário” mostra um aposento quase circular, com as paredes cobertas de musgo ou de algas, tendo em certo ponto um aquário de verdade que reproduz o formato do ambiente onde se encontra. A “Torre do Relógio” mostra outro local abandonado, o teto cheio de buracos, nenhum sinal de presença humana, e vemos de dentro para fora as engrenagens mecânicas do relógio da torre.

Trabalhos assim envolvem partes iguais de artes plásticas e fotografia, e eu diria que também existe uma espécie de teatro implícito nisso tudo, porque cada um desses cenários pressupõe uma história que ocorreu ou que ainda está ocorrendo. Não se trata simplesmente de fotografar, mas de produzir uma realidade artificial e registrá-la através da foto. E a foto é indispensável, porque somente nela, pela ausência de proporções externas em relação ao mundo, podemos acreditar que aqueles cenários minúsculos são os espaços reais que representam.

Num texto que há no saite da artista, Jeffrey Hoone comenta que nos últimos trinta anos muitos artistas têm explorado essa mistura entre evidência e imaginação, através da ambigüidade da fotografia construída. Ele cita “as cenas cuidadosamente construídas de Bernard Faucon com manequins de crianças, as desconstruções de papéis sexuais levadas a cabo por Laurie Simmons e Cindy Sherman, os elegantes estudos arquitetônicos de Jim Casebere, e as produções monumentais de Jeff Wall e Gregory Crewdson”. Talvez seja excessivo chamar a isso “uma nova forma de arte”, mas não há dúvida de que é uma combinação muito rica de possibilidades.

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