Diz uma piada antiga que certa vez Henry Ford, no auge do sucesso de sua indústria automobilística, requereu uma audiência com o Papa. O papa o recebeu com cortesia, os dois trocaram amabilidades, e aí o americano explicou a razão de sua visita: “Eu gostaria que o sr. colocasse a palavra ‘Ford’ no Pai Nosso”.
O Papa se assustou: “Que é isso, eu não posso”. Ford insistiu: “Falei com meus acionistas e estou pronto para pagar cem milhões de dólares”. E o Papa: “A oração faz parte da tradição cristã, não posso mexer nela”. Ford era persistente: “Santo Padre, estou autorizado a ir até 500 milhões de dólares, porque o merchandising seria muito positivo para nós”.
O Papa, desesperado: “Não, não, é pecado, saia daqui”. Ford retirou-se, matutando consigo: “Como será que a Fiat conseguiu?...”
Muita gente fica famosa porque aparece, para manter o clima cristão, como Pilatos no Credo. Ou seja: a fábrica Fiat jamais desembolsou um centavo, mas a frase “fiat voluntas tua” (“seja feita a vossa vontade”) está lá para quem quiser ver.
Descendo a um terreno mais profano, quantos de nós não dariam os 500 milhões de Henry Ford, caso os tivessem, para aparecer na foto da capa oficial de um disco dos Beatles? Pois essa sorte coube, de graça e à revelia, a um americano chamado Paul Cole, que morreu esta semana.
Cole estava de férias em Londres, passeando com a esposa, e certo dia, quando ela quis visitar um museu, ele falou; “Já estou de saco cheio de tanto museu. Vá lá, que eu vou dar uma volta, e mais tarde a gente se encontra”. E lá se foi ele, bater pernas na ensolarada manhã londrina.
A certa altura, parou junto a uma van da polícia estacionada junto ao meio-fio. “Parei do lado e comecei a conversar com o policial, perguntando sobre a cidade, o trânsito, essas coisas,” recorda Paul Cole. Eram cerca de dez da manhã do dia 8 de agosto de 1969.
De repente, Paul virou-se e viu, num canteirozinho no meio da rua, uma escada em V no alto da qual um sujeito empunhava uma câmara fotográfica. E de repente quatro sujeitos de aparência estranha começaram a cruzar a rua, em fila indiana: um cabeludão de óculos e terno branco, um sujeito menorzinho de cigarro no dedo, outro de terno escuro e pés descalços, e por último um cara de imensa barba, vestindo camisa e calça jeans. Paul Cole pensou: “São uns malucos. Não se anda descalço em Londres.”
Um ano depois, Paul estava em sua casa, nos EUA, enquanto a esposa ouvia o disco novo dos Beatles, Abbey Road, e tentava aprender a tocar no órgão a música “Something” de George Harrison. Quando pegou na capa do disco, ele teve um susto. Lá estava a van! Lá estavam os quatro malucos! E lá estava ele! (Cole é visível junto à cabeça de John Lennon, parado junto da van escura da polícia). A foto lhe rendeu entrevistas o resto da vida, e obituários no mundo inteiro quando morreu agora, aos 96 anos. Ficou famoso – e não gastou um tostão.
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