Ninguém sabe o que faz um livro tornar-se sucesso de vendas. De vez em quando aparece por aí um Nome da Rosa, Código da Vinci, Alquimista e vende horrores. Por quê? Ninguém sabe: nem o autor, nem o editor, nem as pessoas que estão comprando, porque ao lado livro daquele tem outro, do mesmo autor, ou sobre o mesmo assunto, que está entregue às moscas.
Um dos grandes sucessos da década de 1980 foi Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva. O editor Caio Graco Prado era amigo do rapaz, que nunca tinha escrito um livro, e sugeriu-lhe escrever suas memórias. Marcelo era filho de um deputado de esquerda “desaparecido” pela ditadura, e tinha ficado paraplégico ao dar um mergulho de mau jeito. Apesar disso, era um sujeito “alto astral”. Caio Graco encomendou-lhe um livro prometendo que iria vender uns 30 mil exemplares. Vendeu 500 mil; está vendendo ainda hoje. Ninguém sabe por quê – ou melhor, depois que acontece, todo mundo acha que sabe, e toda vez que tenta repetir a receita, não dá certo.
Curtis Sittenfeld, autora do recente best-seller Prep não sabe por que motivo seu livro (no qual a própria editora não botava muita fé) vendeu 133 mil cópias em capa-dura e mais 329 mil em edição de bolso, além de ter sido negociado para 25 países e para o cinema. Tanto a autora quanto os editores foram colhidos de surpresa por uma resposta totalmente desproporcional à sua expectativa. “Na maior parte do tempo, é uma profissão regida pelo acidente,” diz William Stratchan, da Carroll & Graf. “Se alguém tivesse a chave do segredo, seria muito rico, mas ninguém a tem”.
Uma mudança interessante – e bem ao espírito capitalista – ocorreu em anos mais recentes, com a Internet. A facilidade e rapidez na troca de informações faz com que os editores de hoje possam pesquisar seu mercado quase tão bem quanto as redes de TV ou os estúdios de cinema. Num saite como a Amazon.com, leitores deixam páginas inteiras de comentários, fazem listas de livros preferidos, e de certo modo traçam um perfil da multidão silenciosa que consome livros. Os Blogs de leitores também são importantes neste processo. É um bom sinal? Não creio. Uma das melhores coisas no mercado do livro é a imprevisibilidade do próximo sucesso. No dia em que o mercado leitor puder ser passado num pente-fino pelos Ibopes especializados, aí sim, o livro vai mesmo ser tratado como se fosse um detergente ou um sabonete.
Nos EUA, diz o agente Eric Simonoff, as outras indústrias ficam perplexas com o rudimentarismo da indústria editorial: “porque é tão imprevisível, porque as margens de lucro são tão pequenas, os ciclos são tão longos, e pela ausência quase total de pesquisa de mercado”. Para nós, autores e leitores, isto são boas notícias. Tremo-na-base ao pensar no dia em que um gerente de marketing vai me estender dez laudas de pesquisas tabuladas nos mínimos detalhes e dizer: “Está tudo aqui, agora só falta escrever o livro”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário