sábado, 19 de setembro de 2009

1270) Poluição visual (8.4.2007)



Conversando com amigos paulistanos fiquei sabendo de uma façanha recente da prefeitura local. Estou vendendo pelo preço da fatura, portanto, se me equivocar em algum detalhe peço desculpas antecipadas ao burgomestre. Ao que parece, a administração municipal está trabalhando para reduzir a poluição visual na cidade. Ação que, em tese, eu subscrevo inteiramente. Hoje em dia a gente não pode andar na rua sem ser assaltado por uma profusão indescritível de placas, cartazes, displays, letreiros pintados, letreiros modelados, out-doors, o escambau. Marquises, fachadas, muros, paredes, postes, calçadas, onde quer que haja meio metro de espaço livre vai alguém e enche de “reclames”: ‘CHAVEIRO ENCANADOR ELETRICISTA 24 HS” – “ALISA-SE CABELO E FAZ ESCOVA” – ‘LANCHONETE NOSSA SENHORA APARECIDA XISBURGUER XISTUDO E PÃO NA CHAPA” – e assim por diante. Dá um livro.

Por que tanta propaganda? Principalmente pelo fato de que o brasileiro vive do pequeno comércio, dos pequenos serviços. Com o quê, aliás, eu simpatizo, porque detesto mercados monopolizados por meia-dúzia de companhias gigantescas. Já pensou se somente o MacDonald’s e o Bob’s tivessem licença para vender xistudo? O brasileiro é descolado, ativo, tem iniciativa, adora não ter patrão e fazer as coisas por si próprio. Vai daí, surge essa proliferação da mini-economia. O problema é que, quanto menor a bodega, maior a placa que ela precisa afixar para mostrar que existe. E não só maior, como pintada em tinta acrílica, com letras vermelhas e azuis sobre fundo amarelo berrante.

Proibir? Nem pensar. Padronizar tudo num só tipo de placa? Errado: parece coisa stalinista para facilitar a vida dos burocratas e deixar os usuários unanimemente invisíveis naquela mar de monotonia. Estabelecer critérios máximos de tamanho, colocação, etc.? Talvez, porque Dona Fulana tem direito de avisar aos passantes que faz bolos e tortas por encomenda, mas não precisa de seis metros de muro para dizer isto.

Enfim – soluções existem, basta haver inteligência, bom senso e boa vontade de parte a parte. (Por outro lado, pense em três coisas difíceis de se encontrar hoje em dia!) Mas o prefeito paulistano inventou uma solução radical: mandou proibir placas de qualquer natureza, inclusive as placas e cartazes nas portas do teatro. E a classe teatral está se insurgindo contra esta medida estapafúrdia. Porque uma coisa é a Pirelli ou a Ambev ocupar 150 outdoors pela cidade afora anunciando seus produtos, e outra coisa é um teatro, que só funciona ali naquele ponto, colocar em sua própria porta os cartazes das peças que estão ou estarão sendo em breve oferecidas ao público. A coisa mais difícil do mundo é administrar interesses conflitantes. Ser síndico é mais difícil do que reger uma ópera. Tiro meu chapéu para quem encara uma tarefa tão difícil, mas será que não dá para resolver essas coisas sem recorrer à Solução Herodes?

Um comentário:

Cris disse...

Me preocupa mucho la polución en Buenos Aires. Aveces veo fotos de paises europeos y me maravilla ver las ciudades sin carteles ni escritos de ninguna clase en calles y fachadas. Mismo en Salvador, Bahia donde estuve hace unos años observé la misma limpieza visual en el casco histórico, por lo menos. Pienso también que una buena reglamentación y la decisión firme de hacerla cumplir no es una idea descabellada.Un saludo cariñoso.