A Fiocruz, através do Centro de Estudos do Museu da Vida, acaba de lançar em parceria com a editora Vieira & Lent o livro Cordel e Ciência – a Ciência em Versos Populares.
(Para informações e encomendas, o email da editora é editora@vieiralent.com.br, e o telefone 21-2262-8314).
A antologia tem 22 folhetos ligados ao tema, organizados em quatro partes:
1) “Os Cientistas” (pequenas biografias de Hipócrates, Galileu, Kepler, Santos Dumont, etc.);
2) “No espaço” (folhetos com histórias de viagens espaciais);
3) “Pela saúde” (folhetos como “O poder das plantas na cura das doenças”, “Cartilha do Diabético”, etc.);
4) “Meio Ambiente” folhetos sobre a fauna e a flora brasileiras.
Os folhetos são assinados por cinco autores: Edmilson Santini, Eugênio Dantas de Medeiros, Gonçalo Ferreira da Silva, Manoel Monteiro, e Raimundo Santa Helena.
Os organizadores são Ildeu de Castro Moreira (Instituto de Física da UFRJ), Luisa Massarani e Carla Almeida (Museu da Vida/Fiocruz).
Na apresentação os organizadores destacam a importância de mostrar o modo como a poesia popular repassa informações e conceitos científicos para a população. Como sabem os leitores do cordel, é ponto de honra para o poeta-de-bancada repassar informações importantes para seu público, embora evidentemente seu ofício não se limite a esta função.
Mas quando essa ação é necessária, o cordelista vai às enciclopédias, aos jornais, às bibliotecas, onde quer que estejam as informações; e de posse delas faz a transcodificação para o idioma das sextilhas, cuja cadência mnemônica é meio-caminho andado para o entendimento e a aceitação.
Existe uma expressão tradicional na Cantoria de Viola: “cantar ciência”. Não quer dizer propriamente cantar sobre assuntos científicos. É cantar (ou, no caso do Cordel, escrever) informações acumuladas sobre um assunto: História Sagrada, nomes de peixes, Mitologia Grega, jogos da Seleção, nomes de rios, listas de Presidentes... Cantar ciência é codificar informação em estado bruto, para que não se perca.
São os dois lados da poesia popular. A informação e a imaginação. A “ciência” e a poesia.
Há um episódio célebre na Cantoria, do desafio entre Romano do Teixeira e Inácio da Catingueira, em 1870. Romano branco e culto; Inácio ex-escravo e analfabeto. Cantavam (reza a lenda) ao longo de três dias, e permaneciam empatados. Aí Romano disparou um verso enumerando deuses da mitologia, e Inácio encerrou o desafio, dizendo que não podia acompanhar o mestre em “cantar ciência”.
Graciliano Ramos, em Viventes das Alagoas, mete o chanfalho em Romano, dizendo que era um pretensioso metido a intelectual, e afirmando que preferia a poesia pura de Inácio.
Tem razão por um lado, mas o assunto não morre aí. Quando o talento se equivale, é o conhecimento que desequilibra. E já que não podemos conferir talento a ninguém... difundir informações não custa nada. E cantar Ciência é uma coisa tão bonita!
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