terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

0837) John Fowles (22.11.2005)



Morreu na Inglaterra há alguns dias, aos 79 anos, o romancista John Fowles, que é mais conhecido como autor de O Colecionador (filmado por William Wyler) e A Mulher do Tenente Francês (filmado por Karel Reizs). Na esteira destes dois enormes sucessos, Fowles teve outros livros traduzidos no Brasil: A Torre de Ébano, O Mago. Sua obra é uma curiosa mistura entre o romance vitoriano tradicional e a literatura dos anos 1960, cheia de interferências metalínguísticas e experiências formais.

O Colecionador é seu livro mais famoso e mais acessível. Um sujeito introspectivo e insignificante é apaixonado à distância por uma estudante de Belas Artes, em Londres. “Apaixonado” é um termo elogioso para descrever a obsessão psicótica que ele sente, e que é desencadeada quando ele ganha uma fortuna na Loteria e consegue seqüestrar a moça. O livro começa do ponto de vista dele, e a certa altura se transfere para um diário que ela começa a manter no cativeiro. São dois pontos de vista quase alienígenas: um sujeito desajustado, egoísta e poderoso, e uma mulher encantadora e cheia de vida que se vê totalmente à mercê dele. A tragédia moderna de mundos inconciliáveis em rota de colisão.

A Mulher do Tenente Francês transcorre no século 19, e o protagonista é um rapaz de ótima família britânica, com casamento marcado e tudo, que se apaixona por uma mulher que todos na cidade desprezam, uma mulher que anos atrás foi amante de um soldado francês, o que a faz agora ser considerada uma espécie de pária e prostituta. É a típica história de paixão que não pode dar certo de jeito nenhum, e Fowles oferece ao leitor uma escolha entre três finais diferentes. É um livro brilhante e um tanto cruel, muitíssimo bem escrito.

O Mago se passa numa ilha da Grécia, onde um jovem professor inglês vai morar depois de romper com sua namorada. Ali ele conhece um milionário grego que começa a envolvê-lo num jogo de alucinações, encenando situações absurdas e surrealistas que fazem o protagonista duvidar da própria sanidade mental. Fowles introduziu neste livro o conceito de “godgame”, “o jogo de ser Deus”, em que um indivíduo todo-poderoso dá-se o trabalho de produzir para seu próprio deleite situações mirabolantes envolvendo outras pessoas, fazendo com que suas “vítimas” percam a distinção entre encenação e realidade. Digamos que se trata de imensas “pegadinhas”, minuciosamente planejadas, e executadas a sério.

Mais informações sobre a obra de Fowles podem ser encontradas em seu saite (http://www.fowlesbooks.com/). Ele foi por alguns anos considerado “um dos maiores escritores do mundo”, mas parece que tinha um jeito meio rabugento e não gostava muito de publicidade e badalação. Seus romances são em geral enormes e absorventes: minha edição de The Magus tem 668 páginas, e não era fácil largá-las na hora de ir dormir. Sua literatura é opulenta, precisa, cheia de enorme nitidez descritiva e de incomparáveis ambiguidades.

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