sábado, 27 de setembro de 2008

0560) Ou escreve ou endoidece (4.1.2005)



Peguei no ótimo saite literário The Elegant Variation uma pequena lista de instruções para escritores profissionais. Faço esta especificação pelo fato de que os escritores amadores não precisam de instruções, uma vez que só escrevem quando sentem-se inspirados. Os profissionais, no entanto, são obrigados a escrever todos os dias, tenham idéias ou não, vontade ou não. 

Vai daí que a Internet fervilha de páginas de conselhos, táticas e métodos para fazer com que estes pobres coitados cumpram seus prazos e não passem vergonha.

Ainda acho que o método mais eficaz é o que chamo “Método Garcia Márquez”, por ser o adotado pelo nobre escritor colombiano. Dizia o velho Gabo que só conseguira produzir todos aqueles livros porque tinha com sua mulher um acordo. Todos os dias, a uma determinada hora, ela o trancava pelo lado de fora numa saleta onde havia apenas uma mesa, uma máquina de escrever, papel em branco e (creio) uma moringa dágua e um copo. 

Ali ele tinha que passar seis horas por dia, escrevesse ou não. Depois de uma hora de tédio, sem fazer nada, o desespero era tão grande que ele sentava à máquina e acabava escrevendo.

Não é muito diverso o método que achei preconizado na lista, só que esta vem com mais detalhes, que julguei muito úteis. O leitor que confira, e me diga depois.

“Duas horas por dia. Nada de TV, de Internet, de livros, de telefone. Ou escreve, ou endoidece. Escrever cartas não conta. Ler não conta. Pesquisar não conta. Revisar o que foi escrito na véspera não conta. Só há duas opções: escrever texto novo, ou ficar olhando o monitor. 

"Algumas vezes, você vai ter um surto de inspiração e escrever sem parar durante três horas. Isto não lhe dá o direito de no dia seguinte reduzir o prazo para uma hora. São duas horas por dia, não importa o quanto tenha feito na véspera. Não adianta pedir para lavar o banheiro, consertar o vazamento, limpar a caixa-de-areia do gato. Não há desculpas. Você tem que usar aquelas duas horas para escrever.”

Tão pouco, não é mesmo? Creio que foi Rémy de Gourmont quem disse que toda sua obra foi produzida durante algumas horas de trabalho logo depois do despertar: “Trabalhava algumas horas, e o resto do dia era dedicado a viver.” 

Que cronograma esperto! Os indivíduos noturnos, como eu, depositam todas as suas esperanças neste apagar-das-luzes do dia, após a meia-noite. O dia inteiro foi passado em compasso de espera, pesquisando na Internet, respondendo emails, lendo. A hora da onça beber água é depois da meia-noite: aí o cabra diz a que veio. 

É pena, porque muitas vezes o dia foi tenso ou cansativo, e somente quando o relógio nos mostra 4 ou 5 da manhã, e não escrevemos nada ainda, é que temos de jogar a toalha e admitir que aquele foi um dia perdido. 

Duas horas! Dêem-me duas horas de trabalho vibrante e ininterrupto, todos os dias, e eu botarei no bolso Garcia Márquez, Rémy de Gourmont e todos esses pés-de-chinelo.




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