domingo, 6 de março de 2022

4800) Cinco fugas da prisão (6.3.2022)



1
Em 1956, vinte prisioneiros de uma ala especial da antiga prisão estadual de Hortendorf (em Klagenfurt, Áustria), conseguiram abrir por baixo de suas celas um túnel que se alongou por mais de cem metros na direção da floresta vizinha. Na noite da fuga, o nervosismo e o alvoroço levaram os fugitivos a derrubar algumas das escoras que mantinham o túnel de pé, e o terreno, já enfraquecido pelos meses de escavação constante, cedeu no interior do túnel, desmoronando na galeria de esgotos que ficava por baixo, e cuja cobertura de pedra elas tinham sido incapazes de perfurar. Todo o piso daquela ala afundou mais de dez metros no subsolo, rachando o terreno, fazendo desabar a torre de vigilância mais próxima, e com isto provocando um circuito na cerca eletrificada e um incêndio que consumiu duas alas maiores antes de ser apagado pelos bombeiros. Dos vinte fugitivos que estavam no túnel, dezessete morreram soterrados, mas durante o caos e o pandemônio do incêndio cerca de duzentos outros conseguiram fugir.
 
2
Em maio de 1844, na prisão da Santé, em Paris, o frade franciscano Jacques Beaurevert, autorizado pelo capelão da cadeia, foi admitido ao calabouço onde se achava trancafiado o notório ladrão Paul Riennes, cuja execução estava marcada para a semana seguinte. Ali, ouviu-lhe a confissão, absolveu-o e retirou-se murmurando bênçãos aos guardas que o conduziram de volta à rua. Duas horas depois, na ronda em que era servido o rústico bandejão dos presos, qual não foi a surpresa dos carcereiros quando descobriram, envergando o uniforme listrado de detento, o próprio frade de quem haviam se despedido pouco antes. Foi dado o alarma, inutilmente, e sob pesado interrogatório o frade explicou que havia sido hipnotizado – palavras que os oficiais da Santé desconheciam, mesmo já estando em circulação pelo menos desde 1620 o termo “hypnotique” para designar algo capaz de causar o sono, mas no idioma inglês o Dr. James Braid introduzira, apenas um ano antes, o termo “hypnotism”, para indicar “um tipo de transe induzido”. As autoridades concluíram que a história estava muito mal contada, e o fato oficial é que “Paul Riennes” foi executado na hora prevista, e sepultado às pressas.
 
3
A prisão federal de segurança máxima de Umlazi (África do Sul) mantém um corpo permanente de 85 guardas que se revezam em turnos, na vigilância de 64 prisioneiros. Revistas são feitas diariamente nas celas, em horários aleatórios. Comportamentos suspeitos fazem com que os guardas obriguem os prisioneiros a mudar de cela inesperadamente. Sensores sismológicos estão instalados em todas as paredes, e são semanalmente checados pelos guardas. As cercas são eletrificadas, com equipes de três guardas em cada torre, e há câmeras de monitoramento 24h, controladas por meio de duas centrais independentes, com patrulhas sempre a postos. Revistas médicas minuciosas são feitas nos presos, todos os meses, em datas e horários imprevisíveis. Um prêmio em dinheiro está permanentemente oferecido a quem ajudar na captura de algum preso foragido. E ainda assim, nas duas primeiras décadas deste século nada menos de dezoito guardas conseguiram fugir da prisão, fato que deixa as autoridades compreensivelmente perplexas.
 
4
Em 1735, o notório pirata Giancarlo Mezza Gamba, após uma incursão mal sucedida, caiu prisioneiro da fragata inglesa “Sparrow Song”, em cujo porão foi trancafiado, depois de ter correntes amarradas à cintura, e grilhões atados aos pés. Com 22 homens na tripulação para vigiá-lo, sendo três em guarda permanente no alçapão que dava acesso ao porão, imaginou-se que estariam em segurança durante os dois dias de viagem de volta a Portsmouth, onde o bucaneiro seria entregue às autoridades. Um dia e meio apenas foi bastante para que ele (deduziu-se depois, a partir das declarações dos sobreviventes) conseguisse apossar-se de uma haste metálica arrancada de um baú, e com ela escavar as ranhuras entre as tábuas do fundo, afrouxando-as, arrancando-as dos pregos; contou também com a tempestuosa noite final da véspera de sua planejada chegada a Portsmouth, para fazer com que parte inferior da fragata cedesse parcialmente, fizesse água, fosse ao fundo em pleno clamor da tormenta com trovões e relâmpagos, sendo que Mezza Gamba conseguiu, mesmo acorrentado, escapar para o meio das ondas, agarrar-se a um barril vazio e assim boiar durante vários dias até dar na costa irlandesa, onde foi reconhecido por um grupo de patriotas, dos quais tornou-se instantaneamente um herói ao explicar como conseguira afundar a fragata do capitão “Hook” Mulvaney, notório perseguidor daqueles patriotas rebeldes.  
 
5
Em Austin (Texas), em maio de 1995, um professor de matemática, apelidado pelos seus alunos The Human Computer, apostou com o editor de um programa de TV local que seria capaz de fugir de uma prisão de segurança máxima. Foi-lhe oferecido um prêmio de 10 mil dólares caso ele conseguisse, com a condição de que cada hora por ele efetivamente passada dentro da prisão diminuiria 1 dólar do total do prêmio. Quando se completou um ano, a emissora de TV consultou o professor para saber se ele queria dar a aposta por encerrada e receber o saldo remanescente do prêmio, que a esta altura tinha minguado para cerca 1.240 dólares, mas, teimoso que era, ele insistiu em continuar. O professor continua preso, e teve que vender seu apartamento para pagar a dívida dos 26 anos passados em sua cela.
 
 
 
 
 








2 comentários:

Getúlio Maia disse...

Bom dia. Em Umlazi foram mesmo os guardas que fugiram?

Braulio Tavares disse...

Olá, Getúlio. Sim, a idéia é que quem queria fugir dali eram os guardas, que não suportavam uma rotina tão massacrante.