Samuel Delany tinha apenas 24 anos quando este romance
foi publicado e ganhou o Prêmio Nebula de ficção científica.
É o prêmio mais “intelectual” da FC norte-americana, votado por escritores, editores e críticos, em comparação ao Prêmio Hugo, mais “popular”, votado por leitores e fãs. E tem mais: ele já havia publicado àquela altura cinco novelas curtas, das quais pelo menos uma (Empire Star, 1966) é de qualidade excepcional.
É o prêmio mais “intelectual” da FC norte-americana, votado por escritores, editores e críticos, em comparação ao Prêmio Hugo, mais “popular”, votado por leitores e fãs. E tem mais: ele já havia publicado àquela altura cinco novelas curtas, das quais pelo menos uma (Empire Star, 1966) é de qualidade excepcional.
Babel 17 foi
uma porrada na elite dos autores de FC da época porque pegava alguns dos temas,
ambientes e truques narrativos da pulp
fiction dos anos 1930-40 e da FC mais literariamente consciente dos anos
1940-59. E no meio disso tudo injetava uma overdose de elementos contemporâneos
da contracultura da época, dos jovens da época. Quando este livro surgiu, os
grandes nomes da FC norte-americana eram Isaac Asimov, Frederik Pohl, Robert
Heinlein, Theodore Sturgeon, A. E. Van Vogt – todos na faixa dos 45 anos ou mais. Aos
olhos deles, Delany era uma espécie de menino-prodígio.
Babel-17 tem um
cardápio habitual nas aventuras de space
opera: batalhas espaciais, astronavegação visionária, invasores
implacáveis, assassinos de encomenda, piratas galácticos, um espião oculto
entre uma tripulação fiel, armas de poder titânico...
Na obra de Delany, o livro tem uma continuidade temática
e estilística com Nova (1968), que já
comentei aqui no blog. Ambos os livros, aliás, começam com um longo trecho em
que o capitão de uma espaçonave caminha pelo submundo de uma cidade
espaçoportuária, selecionando tipos extravagantes para compor a tripulação de
sua nave – como em tantas aventuras piráticas-marítimas do romance clássico de
aventuras.
Nenhum leitor poderia se queixar de temática obscura. Tudo ali é familiar: a humanidade em combate feroz contra um
invasor incompreensível, e o herói (no caso, a heroína) que detém uma
habilidade única e excepcional, capaz de reverter o equilíbrio da guerra.
Babel-17 é uma
das obras fundadoras da New Wave da FC norte-americana da época. Um sinal disto
é que deve ser o primeiro romance na história da FC em que a personagem
principal é uma poeta, e que ela vence suas batalhas intergalácticas
enfrentando uma ameaça de natureza linguística, e não apenas armas nucleares.
Uma poeta bem space
opera, em todo caso, porque Delany diz logo no início, sobre a
capitã-de-espaçonave Rydra Wong:
Ela era a poeta mais famosa nas cinco galáxias já exploradas.
A suspensão de incredulidade neste caso é necessária, não
para admitir a hipótese de que a humanidade já tivesse a essa altura explorado
cinco galáxias, mas de que uma poeta fosse famosa em todas elas. Ou seja: é space opera, é puro melodrama, é uma
história épica em grande escala onde mais importa o vívido do que o verossímil.
A escala do romance é épica, sim, contando a guerra entre
a Aliança e os Invasores, um conflito político descrito assim (com um possível
erro de continuidade):
Havia nove espécies inteligentes entre as sete galáxias já exploradas
pelas viagens interestelares. Três haviam se unido permanentemente à Aliança.
Quatro ficaram ao lado dos Invasores. Duas não se envolveram. (Parte 3, IV).
No meio da guerra aparecem piratas espaciais simpáticos,
comandados por Jebel Tarik; piratas estão presentes também em Nova (1968), o romance seguinte do
autor. Existem armas de tecnologia ultra-avançada para a época, androides que
funcionam como perfeitas máquinas de matar.
Uma aventura de space
opera não vale apenas pela grandiosidade e exotismo de sua ação, mas pela
capacidade de produzir (como nos melhores livros de Van Vogt, de Edmond
Hamilton, de Doc Smith) frequentes flashes
de imaginação descritiva, evocando episódios inteiros de aventuras que não
serão contadas. Como neste trecho, em que num momento de crise um personagem
lembra um perigo por que já passou:
...parado e tiritando de frio nas cavernas ressoantes de Dis onde
ficara enclausurado durante nove meses, depois de devorar toda a comida, e mais
o cachorrinho de Lonny, depois Lonny, que morrera congelado tentando escalar a
encosta de gelo, até que de súbito o planetóide saiu da zona de sombra de
Ciclope e o clarão de Ceres explodiu no céu, de modo que quarenta minutos
depois a caverna estava inundada por uma água gelada que lhe chegava ao peito. (Parte
4, II)
Essas “ilustrações” brotam (e desaparecem para sempre) no
meio de uma ação totalmente diferente, e expandem o universo proposto. São, nas aventuras espaciais, o equivalente às
recordações de guerra de velhos soldados ao pé da lareira, ou de lobos-do-mar
num convés noturno, ou de caçadores em volta da fogueira.
São uma figura narrativa essencial ao romance de
aventuras. Servem para lembrar ao leitor que a aventura sendo contada não é a
única, e que contá-la implica em puxar os fios de muitas outras que ficaram (e
ficarão) para trás, pois o mundo do Romance de Aventuras vive do exotismo e do
fascínio das coisas extraordinárias que transformam pessoas comuns em pessoas
extraordinárias.
É um mundo futuro onde a cirurgia cosmética avançou a
galope, e praticamente todo mundo ostenta algum tipo de enxerto ou deformação
estilosa:
“A maior parte deles eram homens e mulheres normais, mas os resultados
da cirurgia cosmética eram numerosos, e faziam o olhar de um observador pular
de um lado para outro. Criaturas anfíbias ou reptilianas discutiam e
gargalhavam com grifos e com esfinges de pele metálica.” (Parte 1, III)
E ao mesmo tempo é um universo onde os personagens comem
hamburger e batata frita e ketchup, bebem “ice cola”, compram jornais para
saber das novidades. Essa mistura entre imaginação exótica e ambientação banal
existe em toda space opera. Em
Delany, ela parece menos resultado da pressa ou da preguiça, e sim da intenção
consciente de aproximar o futuro ao presente, e ver que tipo de faísca de
percepção resulta desse atrito.
Há um capítulo curto e bem humorado (Parte 4, I) em que
duas pessoas estão trancadas na cabine de comando, aparentemente fazendo sexo,
e um tripulante fica interferindo com perguntas de rotina pelo áudio e
recebendo respostas monossilábicas até que encerra dizendo: “Puxa, desculpa aí
se eu interrompi alguma coisa.”
A luta entre a Aliança e os Invasores tem no idioma
Babel-17 uma de suas armas. William Burroughs dizia que a linguagem é um vírus
do espaço exterior. Neste caso, a linguagem é um vírus que um dos grupos em
guerra faz infiltrar nas telecomunicações do outro, para desorganizar suas
associações de idéias. É curioso que Delany recorre (Parte 5, IV) ao uso de
paradoxos para explicar o poder “travador” de uma linguagem – em Alphavile (1965), Jean-Luc Godard usava
trechos de poesia para provocar num bug no supercomputador futurista, Alpha 60.
O filme de Godard e o romance de Delany mantêm aquele equilíbrio instável, bem dos
anos 1960, entre cultura erudita e cultura pop, embora o livro seja muito mais
“literário” e mais fundamentado em assuntos de linguística (Delany é um dos
mais “semióticos” autores da FC) e demonstre muito mais prazer-de-leitor com a
FC clássica do que ocorre com Godard.
A primeira edição brasileira deste livro saiu há pouco
pela Ed. Morro Branco (SP), com tradução de Petê Rissatti (num volume duplo que
inclui o excelente Estrela Imperial),
mas meus comentários neste artigo são a partir da edição em inglês ( trechos
traduzidos por mim).
2 comentários:
Mais uma vez vc me faz querer ter o livro comentado em mãos, pra iniciar a leitura assim que acabasse de ler seu artigo. Magistral. Gracias, abrrr.
Graças a Deus acreditei no Dr. ODION depois de ler tantos testemunhos sobre seu trabalho e decidi entrar em contato com ele. Estou escrevendo meu próprio testemunho que nunca pensei que seria possível. Antes de conhecer o Dr. ODION, eu sentia que tudo isso eram crenças supersticiosas e o feitiço não foi cientificamente comprovado como verdadeiro, mas esse lançador de feitiço me fez acreditar o contrário. ELE É UM BOM HOMEM. Eu recuperei meu ex-namorado com a ajuda deste homem depois de 1 ano de tentativas, mas nenhum meio possível parecia mostrar. Se você leu qualquer testemunho sobre o Dr. ODION, é verdade. Meu namorado me deixou há mais de 1 ano e eu estava querendo tê-lo de volta e tentei implorar para ele voltar para mim, mas ele me deu ouvidos moucos e me fez passar de boba em público. O Dr. ODION foi encaminhado a mim por um amigo meu que ele também ajudou no meu local de trabalho e eu disse a ele que ele era supersticioso e um tolo por acreditar nessas coisas fetichistas. Mas depois de tantas reflexões sobre isso, procurei por ele na Internet e decidi contatá-lo por e-mail. Ele logo me deu seu número de celular e conversamos um pouco também. Ele é o melhor. Antes de seu feitiço funcionar, eu já tinha certeza. Em 2 dias, meu ex-namorado depois de 1 ano zombando de ser um homem inútil, veio me implorar desta vez. Eu não sabia o que esse homem fazia, mas ele é muito bom em fazer isso por mim. Estou agradecendo a ele e ao meu amigo por conhecê-lo também todos os dias da minha vida. Acredito que ele ajudará qualquer pessoa que vier a contatá-lo (drodion60@yandex.com) ou pelo WhatsApp para ele +2349060503921.
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