domingo, 12 de março de 2017

4216) Dicionário Aldebarã XIV (12.3.2017)



(ilustração: Michael Whelan)

O planeta de Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores terrestres.  Seu vocabulário exprime as características da natureza do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da psicologia e da cultura.  Confiram os verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário Interplanetário de Bolso.



“Arp-indul”: o calor abafado em dias de sol sem vento, quando se tem a impressão de que o espaço em volta está coberto por uma redoma.

“Arp-kadhan”: o calor em dias de sol compensado por rajadas de vento fresco que anunciam a aproximação de uma chuva forte.

“Manthiess”: os últimos dois-dedos de café na caneca, que acabam sendo jogados na pia, porque já esfriaram; por extensão, qualquer coisa que perdeu a serventia por decurso de tempo.

“Zumpian”: a sensação terrível de que esquecemos alguma coisa de importância vital e que no instante em que lembrarmos nosso cérebro dará um pipôco.

“Xickmus”: duplas de trabalhadores que se revezam numa mesma função, tendo ambos o mesmo preparo, para que o trabalho flua sem interrupção enquanto um dos dois descansa.

“Nessimans”: pequenas coreografias combinadas que alguns grupos de dançarinos preparam para executar em festas populares, espaços públicos, bailes em residência, numa competição informal, brincalhona, com outros grupos que fazem o mesmo.

“Vorr-Porr”: certas palavras em outro idiomas sujo som corresponde ao de uma palavra na língua local, mas com um significado totalmente diferente, dando origem a interpretações engraçadas.

“Tinger”: perigos desnecessários que as pessoas correm; as histórias de jactância que contam depois, como se tudo aquilo tivesse sido uma prova de coragem. 

“Kanlions”: colares feitos de fios macios e resistentes, pendurados ao pescoço, com presilhas onde as pessoas penduram objetos leves como relógios, espelhos, artigos de maquilagem, etc.

“Matatum”: aquele argumento irrespondível que não apenas encerra em definitivo uma discussão mas deixa alguns minutos de desconfortável silêncio no recinto.

“Rev-Doiul”: a tensão contraditória de quem, às vésperas de um fato crucial, de desfecho imprevisível, precisa tomar providências cansativas e desgastantes visando ambos os resultados possíveis, sabendo que, depois, metade desse esforço terá sido desnecessário.

“Ronfre”: cidadão que depois de exercer uma função pública por vários anos e ser desligado dela continua agindo e falando como se continuasse com todos os direitos e deveres do cargo.

“Bordis-boul”: arranjos florais que as famílias preparam simultaneamente com a primeira refeição da manhã, e que exprimem a expectativa de todos para com o dia que começa.

“Arransa-Dou”: lembranças remotas da juventude, evocadas e compartilhadas em público, que nos fazem rir, depois nos emocionam às lágrimas e por fim nos permitem rir de novo.

“Trigtung”: a prática de atribuir duplo sentido a palavras e frases anódinas, para serem usadas como senhas pré-combinadas quando se está diante de outras pessoas.

“Isternay”: sentença penal para casos especiais, que consiste em fazer o culpado por um determinado dano ser submetido ao mesmo dano de que foi causador.

“Vidgamm”: pequeno frasco contendo fortes essências vegetais capazes de estontear uma pessoa por bastante tempo, usada como defesa por mulheres que viajam sozinhas, e pelos homens que as atacam.

“Fistveik”: termo prejorativo para designar pessoas tão inteligentes que se deixam ofuscar pela própria inteligência e não percebem a infinidade de bobagens que praticam.







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