domingo, 8 de setembro de 2013

3285) Pedro Cancha (7.9.2013)



Um dos melhores filmes do recente VIII Comunicurtas, em Campina Grande, foi o documentário de Luciano Mariz, Cancha – antigamente era mais moderno, sobre uma das figuras mais lendárias de Campina, Pedro Souto Guimarães, o famoso “Pedro Cancha”. É um documentário que mergulha sem receio no mundo do personagem, dando-lhe asas para voar na própria imaginação, além de ter um equilíbrio de alta qualidade em direção de arte, fotografia, iluminação, edição.

Em 1967, o costureiro recifense Marcílio Campos sugeriu que num clima tropical o uso do saiote seria uma boa opção para os homens – mais arejado, mais higiênico. (E, como cantou Luiz Gonzaga sobre a minissaia feminina, “facilita”.) Uma teoria que já tinha sido defendida por Gilberto Freyre e por Flávio de Carvalho (que em 1956 desfilou de saiote pelas ruas de São Paulo). A matéria deu o que falar em Campina, mas o episódio modernista/paulista andava esquecido. A turma do Calçadão propôs: E se a gente saísse na frente, com alguém usando isso? Campina, como se sabe, sente-se na obrigação de estar sempre na vanguarda de tudo.

O problema é que precisavam de um voluntário para usar a indumentária, e quem teria coragem? Alguém lembrou de Pedro Cancha, que morava em Zé Pinheiro e era dono do cabelo mais comprido da cidade, numa época em que cabeludo era insultado e escarnecido nas ruas (eu mesmo o fui, inúmeras vezes), e mesmo apedrejado e perseguido. Pedro Cancha era rude, brabo, musculoso, e tinha um cabelo maior do que o de Benito de Paula. Foi procurado. Topou. Alguém correu em casa e trouxe um saiote da mulher ou da filha. Levaram Pedro para a escada da redação do “Diário da Borborema” (onde eu trabalhava). Fotografaram-no em “contre-plongée”, de baixo para cima (a foto está no filme).

No dia seguinte o jornal saiu com a foto de Cancha na capa, e esgotou edições sucessivas. Mais uma vez, Campina se equiparava às grandes capitais! Foi organizado um desfile em carro aberto pela Maciel Pinheiro, diante de uma multidão dividida (como toda multidão) entre o aplauso entusiasmado e a vaia rancorosa. Pedro, de saiote, em pé no carro, gritava: “Juventude campinense! O mundo está mudando! Viva a liberdade!”. Algo assim.

Vieram novos tempos e novas modas, e o assunto foi morrendo. Em 1997, trinta anos depois do histórico desfile, Rômulo Azevedo fez uma reportagem de TV sobre o fato, e redescobriu Pedro Cancha, ainda morando em algum lugar remoto de Campina Grande. Recordaram o fato, comentaram, e por fim Rômulo perguntou o que ele achava do “mundo de hoje”, tantos anos depois. E Pedro Cancha respondeu, desalentado: “O passado era mais moderno”.





2 comentários:

JOSE SOBRINHO disse...

Marcilio Campos, era natural do Congo/PB!!!

Flávio disse...

já vi que campina é animado.aqui em Palmares é tão monótono.