(Ladrão de Casaca)
É uma figura dramática que talvez não se encaixa em todos os
gêneros, mas que traz muita animação a alguns deles. Essa situação (uma das 7,
ou 36, ou 100 situações dramáticas essenciais, dependendo do autor) pode variar
muito de ambientes, mas sua estrutura principal é assim: num local fechado
(hotel, palácio, prédio público) está havendo uma cerimônia ou festa especialíssima,
com muitos convidados, e alguém vai se valer disso para tentar um golpe ousado
e profundo contra os organizadores. Basta pensar nos salões chiques da Riviera
Francesa onde Cary Grant, em Ladrão de Casaca de Hitchcock, revivia o mito
daqueles ladrões de jóias por quem se apaixonavam todas as socialites, um
pessoal tipo Raffles, Arsène Lupin, Simon Templar (“O Santo”), Irving Le Roy,
etc.
Não tem que ser um roubo; e tanto podemos estar torcendo
pelos donos do baile quanto pelos assaltantes. Este último caso me lembra “A
Dança dos Vampiros” de Polanski, aquele minueto-quadrilha num salão todo
espelhado em que só os intrusos disfarçados de vampiro se veem (no pior momento
possível) como as únicas imagens refletidas.
Não precisa ser um baile. Pode ser uma coroação, ou um
casamento real. Quando todas as atenções do mundo estão voltadas para um
acontecimento central, nítido, ensaiado, agendado, pré-pesquisado por todos... Que
melhor momento para se infiltrar e aplicar um golpe no coração do adversário?
Novelas, folhetins, filmes B, todos gostam dessas situações em que pessoas
ricas e poderosas precisam manter as aparências de normalidade enquanto uma
invasão plebéia está se processando. Uma situação que só o surrealismo poderia
condensar numa única imagem: aquela de L’Âge d’Or de Buñuel, quando no meio
do baile surge uma carroça cheia de operários bêbados que atravessa o salão
inteiro sem ser percebida.
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