Dizer que São Paulo é o túmulo do samba é a típica
alfinetada carioca que se perde no vazio - menos para os cariocas, é claro.
Seria como os EUA dizerem que a França é o túmulo da ficção científica, só
porque a FC de lá é diferente da deles. O samba paulistano é amplo, geral e
irrestrito (a bênção Adoniran, a bênção Celso Viáfora), mas uma parte dele
acaba de ir para o túmulo com o falecimento de Paulo Vanzolini.
É sempre chato lamentar a morte de quem a gente admira
diante dos que não sabem de quem se trata. Vanzolini, que muitos jovens
desconhecem, morreu dias atrás, aos 89 anos. Deixou no mínimo dois clássicos da
nossa música: “Ronda” (“À noite eu rondo a cidade, a te procurar, sem
encontrar...”), a canção que inspirou “Sampa” de Caetano Veloso; e “Volta por
cima” (“Chorei, não procurei esconder; todos viram, fingiram, pena de mim não
precisava...”), que incorporou ao linguajar brasileiro a sua triunfante frase
final: “Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima!”.
Vanzolini surgiu na minha vida com essas duas músicas, que
eu conhecia antes mesmo de imaginar quem as teria composto; mas principalmente
através do LP Onze sambas e uma capoeira, uma espécie de ação entre amigos
que eu acho que só comprei porque tinha Chico Buarque cantando duas faixas.
Atirei no compositor de “A Banda” e acertei no autor de sambas magníficos como
“Samba erudito”, “Praça Clóvis”, “Amor de trapo e farrapo”, “Juízo Final”,
letras surpreendentes, carregadas de humor, ironia, percepção fina de um
cronista do cotidiano.
Vanzolini na verdade era cientista, professor de
Herpetologia (“ele ensina cobras e lagartos”, dizia Chico Buarque), fazia
música nas horas vagas mas só acertava no alvo. Nunca se interessou pelo
sucesso, compunha para si mesmo e para meia dúzia de amigos. Não tinha papas na
língua e mandava torpedos ferinos na direção de quem não gostava. Suas músicas
vão desde a mordacidade da “Capoeira do Arnaldo” (“Quando eu vim da minha terra
/ veja o que eu deixei pra trás: / cinco noivas sem marido / sete crianças sem
pai / doze santos sem milagre / quinze suspiros sem ai / trinta marido contente
/ me perguntando "já vai?" / e o padre dizendo às beata: /
"Milagre custa, mas sai") até o humor negro do “Samba do Suicídio”,
onde o cara faz tudo para se matar e não consegue. (Escutem: tem tudo no You
Tube).
2 comentários:
A música Os Ventos de Mauli dos Africanos Fones que imitava os sons do vento virara uma febre mundial, catalogada nos principais acervos musicais mundiais, coisificada e comercializada pelos principais mercados: Camisetas, Frases, Discursos Políticos de mal esquerda, boa esquerda e não existe esquerda, Paródias, Stand Up e Lie Ups, Slides de Powerpunto, Preza, Mais tubo, Menos Tubo e Nãoentuba.
Não tardou a disputa de patentes, quem é o verdadeiro dono? A produção é anônima já que se trata de um vilarejo? Alias, existe o vilarejo? Já que a história de Mauli poderia ser vivida por qualquer garota africana, pois a música canta a história Mauli que dormia escutando o vento que ora trazia a secura e a miséria ao pequeno vilarejo dos Fones; que ora trazia gafanhotos para os alimentarem: um cenário comum para os países quase perto de se desenvolverem. No Final, a empresa Moinho dos Ventos ganhou a disputa, depois de enriquecida pleiteou o imposto obrigatório a todos os cidadãos por escutarem o vento, pois os versos da música Os Ventos de Mauli eram tocados pelo próprio vento até mesmo quando os cidadãos iam dormir, ao abri a janela, ao sentar-se na praia, ou na praça, parte do imposto seria revestido em melhoria aos países assinantes da cobrança do vento.
E naquele mesmo ano em que foi promulgada a emenda à constituição da Escuta Proibitiva da Gratuidade do Vento, o velho prefeito Emil espalhou por todos os postes da cidade Sinos dos Ventos livrando os cidadãos da cobrança do imposto, pois o vento entrava na cidade porque queria, caso contrário não tocava a campainha.
darei uma ouvida via youtube =]
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