sábado, 9 de março de 2013

3129) Democracia eletrônica (9.3.2013)







Nada mais difícil do que implementar um sistema eletivo com base na opinião de todos. Os ingênuos acham que basta haver eleições para que haja, automaticamente, “democracia”, entendida aqui como a realização da vontade livre, espontânea e soberana da maioria do povo. Ledo engano, meus camaradas. E aqui está a Internet para mostrar os mecanismos que direcionam qualquer tipo de eleição. (Em tempo: não sou a favor das ditaduras. Apenas percebo que as eleições são um passo adiante, mas não são a solução do problema.)

Em 2012, o “rapper” Pitbull fez parte de uma campanha da rede de lojas Walmart. A loja que tivesse mais votos no “Curtir” do Facebook ganharia um show dele. Um jornalista de Boston lançou a campanha “Vamos exilar Pitbull”, pedindo votos para uma loja minúscula nos confins do Alasca. O saite Something Awful aderiu, e a loja, praticamente no meio do deserto, foi eleita. Pitbull teve espírito esportivo e foi fazer o show na neve, para algumas dezenas de gatos pingados. Sua vingança foi convidar publicamente o jornalista autor da idéia, que pra não dar uma de fraco teve que acompanhá-lo.

Sabotagem parecida (estou consultando o saite Cracker: http://bit.ly/VFgmho) ocorreu quando a cidade de Austin (Texas) decidiu mudar o nome do seu Departamento de Resíduos Sólidos (ou seja, do lixo). Pediu-se que a comunidade sugerisse nomes e votasse neles. O nome vencedor foi “Sociedade Fred Durst de Humanidades e Artes”, numa alusão ao polêmico vocalista da banda Limp Bizkit. Houve confusão, Durst disse que por ele tudo bem, mas a votação foi cancelada e o nome escolhido foi “Recuperação de Recursos de Austin”.

Em 2012, o Mountain Dew (refrigerante da Pepsi) lançou um concurso semelhante online para batizar uma nova linha de sabor. Houve uma imediata invasão de gozadores, através do popularíssimo saite 4chan, que sugeriram o nome “Hitler Não Fez Nada Errado” e despejaram uma cachoeira de votos online. O concurso foi cancelado.

Esses pequenos episódios mostram que qualquer votação é vulnerável a: 1) indicação de candidatos espúrios; 2) campanhas de voto anárquico. (Ou seja: tudo que for aberto ao público está aberto aos “trolls”, gozadores sempre dispostos a implantar a bagunça para se divertir). Campanhas políticas no Brasil já elegeram o rinoceronte Cacareco e o Bode Cheiroso de Jaboatão; ajudaram a eleger Clodovil, Enéas e Tiririca; reconduzem ao poder, há décadas, políticos não melhores do que estes e que são hoje Monstros Sagrados da República. O sistema eleitoral deve ser banido? Acho que não, mas poderia ser aperfeiçoado. Quanto mais abertura ele oferece, mais vulnerável fica a interferências que o deturpam.




5 comentários:

Eduardo disse...

Olá :)

Não me parece que o sistema eleitoral, ainda que vulnerável, possa ser aperfeiçoado. Pelo menos não sem limitar a "liberdade de escolha" com consequências potencialmente catastróficas para a sociedade.

E também não me parece que ele seja o problema. Há muitos exemplos de sociedades democráticas onde ele funciona muito bem. Vide lugares como a Noruega, por exemplo.

O problema não é o sistema. São as pessoas.

Enquanto a população, em geral, ou seja, enquanto a maior parte das pessoas não perceber que não está isolada, que faz parte da sociedade e que se não participa e luta, quem tem sede de poder fica livre para fazer o que quer, enquanto isso não acontecer, vamos continuar "sendo governados", ao invés de termos "representantes".

O que mata a democracia não é o sistema, mas o indivíduo que escolhe abstercer de participar da vida política.

Penso eu...

Abraços!

Eduardo disse...

P.S.

Já para as eleições "menos importantes", realizadas na internet.

Bom, a maioria delas é tão... como direi... "desnecessária", que é inevitável serem troladas... rs

A meu ver, tentar "aproximar" uma empresa de seus consumidores, como se a empresa tivesse vida própria é sua existência fosse a de ajudar a melhorar a vida de seus consumidores, ao invés de gerar lucro para os acionistas, é, na minha opinião, um desserviço à sociedade.

Por mim, acho muito bem que sejam troladas até o fim dos dias...

Braulio Tavares disse...

Concordo com ambos os comentários.

A.Z. Cordenonsi disse...

Bom, eu acho diferente. Acho possível aperfeiçoar o sistema eleitoral, sim. Minha sugestão simples seria a implantação do voto distrital puro (ou misto) para as eleições de deputados (estaduais/federais) e senadores. É muito mais fácil um sujeito gozador votar num candidato espúrio (Tiririca) quando ele sabe que ele vai ser só mais um entre tantos. Quanto a sua região SÓ vai eleger UM deputado, a coisa fica mais séria. Afinal, você quer pertencer a cidade/bairro/microregião que só tem o Tiririca como interlocutor? Não sei se é a tábua da salvação, mas acredito que melhoraria sensivelmente.

Eduardo disse...

Sério que eu escrevi abstercer???? O.o
Era pra ser abster-se... lol

A.Z.
O problema em assumir que o voto distrital vai "melhorar sensivelmente" a situação é que você está partindo de dois pressupostos que me parecem equivocados.

O primeiro é que os votos no "Tiririca", por exemplo, aconteceram por "trolagem" e que os trols, nesse caso, são minoria. Não é verdade. E nem sei dizer se isso é bom ou ruim... O.o
A verdade é que desde tempos imemoriais, as pessoas tem a tendência a "colar-se" com quem se identificam. O Tiririca não foi o primeiro candidato "improvável" eleito, nem será o último.

O segundo é de que com menos opções, as pessoas vão ser mais cuidadosas em suas escolhas. Se o cuidado ao escolher o candidato fosse algo que já existisse, o sistema não seria tão importante.

No fim, independente do sistema, temos ainda outro problema ainda mais grave. Quem define os candidatos, com exceção do cargo de vereador, são os partidos.
Você, cidadão, não tem direito de escolha. Eles já escolheram por você.

Daí a importância da participação ativa na vida política.
Essa ideia, bastante enraizada, diga-se de passagem, de que política é algo sujo e corrupto, política no sentido partidário/governo entenda-se, é verdadeira, mas só porque as pessoas de bem e honestas são minoria ali.

Se o "povão" invadir os partidos e começar a fiscalizar a sério, exigindo que as punições sejam aplicadas e que a lei mude, a fim de não facilitar aos que podem ter batalhões de advogados escapar às suas culpas, então esse pessoal vai começar a dançar mais miudiunho...