(foto: Graça Graúna)
Já
vi muitos depoimentos de estrangeiros sobre nosso povo, em entrevistas,
pesquisas, enquetes, o escambau. As críticas que nos fazem são sempre muito
parecidas, todas sobre coisas que a gente já sabe, e que em certa medida são
verdadeiras: o brasileiro é acomodado, não se mobiliza socialmente para
protestar, é excessivamente informal e despreza os instrumentos de controle
(leis, Constituição, regulamentos, etc.). Examinar esses defeitos pode até ser
interessante, mas hoje quero examinar algumas qualidades que nos atribuem.
Dizem,
por exemplo, que o brasileiro é acolhedor, hospitaleiro. Será que esses povos
europeus não o são? Talvez o sejam, mas de uma maneira diferente. O europeu em
geral (olha que bruta generalização!) recebe super bem um desconhecido, desde
que ele traga algum tipo de apresentação ou recomendação. Desde que ele tenha
uma noção razoável de quem é aquela pessoa. Em todas as minhas experiências foi
assim. O brasileiro, por outro lado, tende a acolher bem as pessoas com quem
simpatiza, independentemente de saber quem são. Os índios são assim, não é
mesmo? Nove vezes em dez, recebem de
braços abertos até aqueles sujeitos barbudos, feridentos, armados de escopetas.
Outra
coisa: o brasileiro tem fé, acredita que as coisas, por piores que estejam, vão
melhorar. Amigos europeus já me disseram do seu espanto diante disso. Por quê?,
pergunto. Quando vocês têm um problema acham que o mundo vai acabar? Eles
dizem: "Não, quando nós temos um problema temos medo de que aquela situação não
dê certo e tudo comece a piorar a partir dali". Já os brasileiros dizem “deixa
como está pra ver como é que fica” – e vão pensar noutra coisa.
3 comentários:
Bom dia, BT,
Interessante pensar-se enquanto cidadão suscetível a direitos e deveres. Via de regra, o brasileiro tem ojeriza à igualdade quando está em ambiente público. O antropólogo Roberto DaMatta, missionário da causa, diz coisas do tipo em seus livros, especialmente no "Fé em Deus e Pé na Tábua", bordão este proferido pelo motorista do ônibus de minha terra São João Nepomuceno, onde o Roberto passou parte da infância e da adolescência. Naquela época, em que eu nem sonhava existir, e meu pai talvez ainda nem ouvisse vitrolinha na janela da casa dos pais dele, o sujeito, antes de pegar a estrada de terra entre São João e Juiz de Fora, soltava a frase que, muito bem observado, é a transliteralização fidedígna - perdoe-me a redundância - do espírito de borracha deste povo brasileiro teimoso da moléstia!
Penso que o brasileiro aceita as dificuldades, não as supera, uma vez que, após passar pelo problema, para supera-lo ele deveria atacar sua causa, suplantando-a. Aceitar é algo um tanto mais ingênuo e inconsciente, como a "fé" citada.
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