O Brasil comemora o centenário de Luiz Gonzaga, e fico
imaginando que tipo de comemorações estará havendo nos EUA pelo centenário do
Luiz Gonzaga deles, o grande Woody Guthrie.
Assim como Gonzaga, foi um cara que viajou seu país de ponta a ponta,
cantando a vida das pessoas simples nos campos de trabalho, nos sítios, nas
praças, nas estações de rádio, nos comícios, nas festas.
Gonzaga inventou o baião sintetizando
elementos rítmicos, melódicos, instrumentais, poéticos. Guthrie trabalhou dentro da canção
folclórica de origem irlandesa ou escocesa, da música country tradicional, do
forrozinho hillbilly que eles dançam até hoje, de um ou outro elemento negro do
blues, das baladas em compasso ¾, e daquelas quilométricas canções narrativas
em estrofes fechadas, que a canção em língua inglesa tanto aprecia. (E nós
também – vide “Triste Partida”.)
Guthrie é menos conhecido pelas canções do que por ter sido
o “poeta andarilho” que serviu de modelo a uma geração inteira de “trovadores
hippies”: Bob Dylan, Phil Ochs, “Ramblin” Jack Elliott, etc.; e ter sido
interpretado por David Carradine (o ator da série “Kung Fu”) no filme Esta
terra é minha terra (1976), inspirado em sua autobiografia Bound for Glory (1943).
Acho que há poucos CDs de
Guthrie lançados no Brasil. Nos tempos
do vinil era ainda mais difícil encontrar alguma obra sua, e o que me salvou
foram alguns elepês da biblioteca da ACBEU, na Vitória, no tempo em que eu
morava em Salvador.
Ele foi o menestrel ambulante da América no tempo da Grande
Depressão, pegando carona em trens, dormindo nos acampamentos dos sem-terra,
metendo-se em agitações políticas. No
filme dylaniano Não estou lá, de Todd Haynes, seu nome é dado a um
adolescente negro, fluente ao violão.
Sua carreira de trovador brotou num
ambiente idêntico ao de As Vinhas da Ira (livro de John Steinbeck, filme de
John Ford). Esquerdista por natureza,
Guthrie escreveu em seu violão: “Esta máquina mata fascistas”, mas suas canções
não são incendiárias, nem falam de revolução.
Em sua grande maioria são celebrações da vida simples das pessoas do
interior (tal como em Luiz Gonzaga) e reafirmações da fé democrática fundamental
dos norte-americanos.
Um comentário:
Outro músico bastante influenciado por ele é Billy Bragg (meus preferidos são Talking With The Taxman About Poetry e Don't Try This At Home).
Os dois volumes de Mermaid Avenue, com letras de Woody Guthrie musicadas por Bragg e Wilco, são muito bons. Essa é uma versão de All You Fascists Bound To Lose: http://grooveshark.com/#!/s/All+You+Fascists/3qp8I/overview?src=5. Espero que goste.
Já Arlo conheci hoje. Vou ouvir mais.
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