Dias atrás fui ao cinema e na saída encontrei uns conhecidos
que não via há tempos. Fomos tomar um
chope ali perto, falamos de cinema (ou melhor, de como todo filme de Woody
Allen parece uma continuação do filme anterior, só que com outros personagens),
de futebol (e concordamos que nossos julgamentos sobre um clube de futebol dependem
mais do resultado do último domingo do que de um século inteiro de altos e
baixos), de política (concordei diplomaticamente com todos os absurdos que
ouvi) e finalmente de dinheiro. Cada um
se queixou das dificuldades econômicas do país, e cada um descreveu como estava
se virando.
Romualdo, por exemplo, revelou que vive de ser fiador. Como assim?, perguntei. Ele explicou que os pais, precavidos,
botaram no nome dele a casa que possuem.
Como no Rio a procura por fiadores que possuam imóvel é grande, ele
virou fiador-de-aluguel para amigos e conhecidos, cobrando a “uma agenda” de
gente uma quantia mensal que vai de 100 a 200 reais, conforme o valor. “Todos
pagam”, disse ele, explicando ainda que para quem consegue um bom apartamento
na Zona Sul tanto faz pagar 2.500 como 2.600 reais por mês. E a inadimplência?, perguntei. Ele deu de ombros e afirmou que tinha uma
“reserva técnica” que até então não fora necessária.
Valdir, que tem vinte e poucos anos, ganha a vida como
ressuscitador de dados. Como assim?,
perguntei. Ele explicou que uma das
coisas mais comuns hoje em dia é gente que tem arquivos importantes (orçamentos
familiares, diários, relatos de viagens, TCCs e teses de mestrado, etc.)
gravados em mídias que a maioria dos computadores de hoje não lê mais, como os
famosos “floppy disks”, os disquetes de 3.5”, CDs gravados com softwares meio
defasados (Wordstar... WordPerfect...) e assim por diante. Como o sogro dele trabalha na “oficina
digital” (setor de consertos) de uma grande empresa, ele tem acesso a variados
de tipos de computadores 286, 486 e outras mídias jurássicas. E na maior parte dos casos consegue
recuperar os dados perdidos, atualizar seu formato e transferi-los para um
pendraive ou outra engenhoca moderníssima.
“Tendo a certeza absoluta”, diz ele, “que daqui a 10 anos a mesma pessoa
me virá com o pendraive pedindo-me que transfira os dados para a interface
bioquântica que ela mandou implantar no cérebro”.
Um grande financista disse uma vez que onde existir uma
necessidade humana existirá uma oportunidade para se ganhar dinheiro. Uma
sociedade cada vez mais complexa aumenta exponencialmente essas oportunidades.
Por que me maravilho com isto? Talvez
porque eu ganho a vida exatamente como milhões de pessoas ganhavam cem, duzentos
anos atrás.
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