Cap. 1 – De como Jão Balaêro não nasceu: surgiu no
mundo já pronto, aos dez anos, calçando havaianas diferentes, o cós da bermuda
na virilha, a camiseta suja com um nome em inglês, um picolé na mão e o balaio
na cabeça, e berrando: “Rampali, tantão!”, frase cujo significado ninguém
sabia.
Cap.2 – De como Jão Balaêro cresceu na feira de Campina, chutando
laranja chupada, e foi descoberto por um olheiro que o convidou para treinar
nas divisões de base do Corinthians.
Cap. 3 – De como Jão Balaêro viu-se dias
depois numa fazenda no sul da Bahia, trabalhando acorrentado, comendo angu com
bolacha seca e dormindo numa antiga cocheira de vacas.
Cap. 4 – De como Jão Balaêro
conheceu, entre os trabalhadores, Natan, um sujeito magro, alfabetizado e veemente
que lhe ensinou em poucas semanas o que eram os livros, a mais-valia e o
coquetel molotov.
Cap. 5 – De como Jão Balaêro
e Natan, aos gritos de “Rampali, tantão!”, mobilizaram 120 trabalhadores
exigindo colchonetes, sabão e sopa de legumes, o que resultou em serem todos
chicoteados pelos capangas e pendurados de cabeça pra baixo nas árvores uma
noite inteira, para exemplo dos demais.
Cap. 6 – De como, dias depois, caminhões na rodovia próxima recolheram
um número incalculável de caroneiros, enquanto no horizonte se elevava um
fumaceiro parecido com o da queima de um depósito de algodão, uma casa grande, 35
capangas e um fazendeiro gordo.
Cap. 7 – De como Jão Balaêro e Natan
desembarcaram de um pau-de-arara no Rio e arrumaram emprego numa funilaria.
Cap. 8 – De como Natan ensinou a Jão Balaêro o que era uma armadura medieval, um
robô e um assalto a banco.
Cap. 9 – De como a polícia frustrou o assalto de
dois homens sem documentos vestindo contrafações feitas de folhas de alumínio.
Cap. 10 – De como a perplexidade da polícia carioca a fez transferir os dois
indigitados para o presídio de Ilha Grande.
Cap. 11 – De como em poucos meses
Natan e Jão Balaêro transformaram o presídio, aos gritos de “Rampali, tantão!”,
num serpentário trotskysta, onde até os agentes presidiários discutiam
acaloradamente sutilezas estratégicas do tratado de Brest-Litovsk.
Cap. 12 – De
como o Alto Comando das Forças Armadas decidiu acabar com a festa, transferindo
Jão Balaêro e Natan para um lugar seguro, mas contou com encarniçada
resistência dos presos, que resultou em 87 baixas das forças da legalidade e
238 dos amotinados.
Cap. 13 – De como
finalmente Natan foi explodido com uma granada e Jão Balaêro abduzido num
helicóptero da Marinha, onde foi amarrado num saco e jogado no Oceano
Atlântico, onde submergiu gritando algo que soou como “Glugluglub, glub-glub!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário