sexta-feira, 7 de maio de 2010
2005) A religião da política (12.8.2009)
A política é uma colossal manifestação de fé coletiva, claro que convenientemente orquestrada por quem de direito. Isto se torna mais visível no caso dos grandes fanatismos de massa. Nazismo, Fascismo, Comunismo, todos promoveram uma verdadeira lavagem cerebral da população através de propaganda intensa. O objetivo de propagandas assim não é argumentar em favor do regime: é não deixar a mente das pessoas respirar direito. Convencer pelo sufoco, pelo excesso, pelo martelar constante de elogios, slogans, mensagens cívicas, culto à personalidade, demonização de supostos inimigos externos. As pessoas, ao longo dos anos, acabam acreditando por cansaço, ou por falta de alternativas.
Num artigo de José Renato Salatiel no jornal “Rascunho” de Curitiba (junho), ele faz uma longa citação ao livro “Missa Negra: Religião Apocalíptica e Fim das Utopias”, de John Gray (Ed. Record), que vale a pena transcrever.
“A política moderna é um capítulo da história da religião. Os grandes movimentos revolucionários que tanto influenciaram a história dos dois últimos séculos foram episódios da história da fé; momentos do longo processo de dissolução do cristianismo e ascensão da moderna religião política. O mundo em que vivemos no início do novo milênio está coberto de escombros de projetos utópicos, os quais, embora estruturados em termos seculares que negavam a verdade da religião, constituíram de fato veículos para mitos religiosos. O comunismo e o nazismo se diziam baseados na ciência – no caso do comunismo, a pseudociência do materialismo histórico, e no nazismo, o saco de gatos do ‘racismo científico’. Eram pretensões fraudulentas, mas a utilização da pseudociência não teve fim com o colapso do totalitarismo que culminou na dissolução da URSS em dezembro de 1991. Teve continuidade em teorias neoconservadoras segundo as quais o mundo avança para uma forma única de governo e sistema econômico – a democracia universal e o livre mercado global.”
Essa fé irrestrita não age apenas nas ideologias ditas totalitárias. Os EUA insistem em “exportar a democracia” para outros países, mesmo ao custo de invadi-los, derrubar seus governos e apropriar-se de suas riquezas. Agem como se a democracia representativa fosse um remédio para todas as doenças sociais. Nada tenho contra a democracia, que, dos sistemas de governo, me parece o menos prejudicial, como dizia Churchill. Mas não sei se vale a pena interromper a História interna de um povo remoto para fazê-lo escolher seus líderes de acordo com princípios que têm dado certo (com ressalvas, aliás) na América do Norte.
Alguns países europeus, por exemplo, usam a monarquia parlamentarista, e têm se dado muito bem com este sistema, que é muitíssimo diferente do norte-americano e do nosso. Será que a Inglaterra ou a Espanha se julgariam obrigadas a invadir o Brasil (uma República presidencialista) para derrubar nosso presidente, exigir que coroemos um Rei e elejamos um Parlamento?
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