terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

1631) As células-tronco (4.6.2008)




Parece que o debate sobre células-tronco desenganchou no Supremo Tribunal Federal, e que de agora em diante as pesquisas podem prosseguir. A discussão pró e contra se arrastou durante anos. E todo o episódio foi mais uma vez um confronto entre a Igreja Católica e a Ciência. Eu ia colocar “entre a Religião e a Ciência”, mas achei melhor especificar. Cada crença religiosa tem seus dogmas, seus princípios, e eles são muito diferentes uns dos outros. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, não permitem transfusões de sangue, porque em alguma altura da Bíblia há uma frase que parece proibir isto (embora transfusões certamente não fossem de uso da época, e a frase deva estar sendo usada noutro sentido).

A Igreja Católica é contra as pesquisas de células-tronco porque elas usam embriões, e do ponto de vista ético da Igreja constituem um crime contra a vida, semelhante ao aborto. Os defensores das pesquisas argumentam que os embriões utilizados são embriões já fecundados mas que não viriam a se desenvolver em seres humanos completos. São produtos de fertilização artificial, em proveta, e se destinam apenas à pesquisa, sem chance de “nascer”.

Em princípio em sou a favor das pesquisas científicas, porque pelo que já li existem grandes possibilidades de descobrirmos a cura para muitas doenças. A ciência tem um problema médico pela frente e procura resolvê-lo cientificamente. Se a Igreja Católica é contra, é um direito dela – mas como ficam os cidadãos que precisam da pesquisa e não são católicos? Eu, que não sou Testemunha de Jeová, acho que tenho direito a fazer transfusões de sangue, se preciso for. Respeito a religião deles, mas, como não pertenço a ela, me acho livre para agir de acordo com as minhas crenças, não com as crenças de A, B e C (que por sinal discordam todos entre si). Do mesmo modo, não sendo católico, não me acho na obrigação de obedecer às proibições da igreja do meu vizinho. Respeito, converso civilizadamente, coisa e tal, mas não posso agir de acordo com a crenças alheias. (Aliás seria interessante saber o que acham da pesquisa com células-tronco os meus amigos budistas, judeus, muçulmanos, taoístas, umbandistas e baha’i).

Mas eu defendo o patrulhamento feito pela Igreja, porque a Ciência tem dois defeitos: é excessivamente fria e impessoal, e se deixa manipular facilmente pelas corporações, pela indústria farmacêutica e outros grupos interessados em lucros. Se não existirem pressões como essa da Igreja, os laboratórios em breve estarão extraindo órgãos de pessoas vivas para comercialização (lembram do filme Coma?). O comércio de órgãos humanos no Nordeste, p. ex., onde o sujeito vende um rim por mil reais, é tão florescente quando o de DVDs piratas. A Igreja tem, pelo menos em tese, um compromisso humanista não condicionado pelo lucro, e precisa estar sempre segurando as rédeas da Ciência, senão... Leiam Admirável Mundo Novo (Huxley), leiam A Ilha do dr. Moreau (H. G. Wells).

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