quarta-feira, 4 de novembro de 2009

1347) A religião de Isaac Newton (8.7.2007)



(Isaac Newton)

Em Jerusalém foi aberta uma exposição de manuscritos religiosos de Isaac Newton, mais conhecido como o formulador da Lei da Gravitação Universal, inventor do Cálculo Diferencial, além de outras descobertas científicas. 

Muita gente não sabe que Newton, em seus últimos anos de vida, mergulhou fundo na exegese da Bíblia, que lhe ocupava o tempo inteiro. Já vi avaliações de que do total de manuscritos que deixou apenas um terço era de natureza científica; o resto eram especulações sobre a época do Dilúvio ou a possível data do Fim do Mundo. O qual, de acordo com manuscritos exibidos em Jerusalém, está marcado para o ano de 2060, o que nos deixa tempo, para ir até o fim deste artigo. 

Ciência e Religião já foram uma coisa só, e ainda o são, nas chamadas sociedades primitivas. Todo grupo humano quer saber o porquê das alternâncias do dia e da noite, o porquê das estrelas e dos planetas, o porquê da vida e da morte. Quando atribui essas causas a seres sobrenaturais, cria a Religião. Quando as procura na própria Natureza, acaba produzindo a Ciência. 

Mas o objetivo das duas é o mesmo: entender como o Universo funciona, saber o como e o porquê das coisas. Isto é algo tão óbvio que é preciso levantar os olhos do monitor e ver o mundo dilacerado em que vivemos, onde Ciência e Religião parecem não apenas atividades diferentes, mas mortalmente inimigas. 

Newton viveu num tempo (séculos 16 e 17) em que a Ciência começava a suplantar a Religião na explicação das coisas, e o fez, em grande parte, graças a ele próprio. Newton talvez acreditasse que não havia muita diferença entre o Dilúvio e a Gravidade: ambos seriam manifestações de Deus para melhor administrar a sua Criação. 

Eis uma interessante pergunta retórica: se Deus criou as Leis da Natureza, ele pode desobedecê-las, produzindo um milagre? Diz a Religião que sim, a Ciência que não. Mas talvez estejamos colocando a questão de maneira errada. A Natureza não tem “leis” que devamos “obedecer”, tem uma maneira única de administrar a si mesma, através de fenômenos que vão desde a eletricidade e o magnetismo até a gravidade, a vida, as reações químicas, etc. Estes fenômenos obedecem a regularidades obrigatórias. Dadas as mesmas condições, repetem-se sempre da mesma forma. 

Se Deus não interfere nisso não é por impossibilidade de sua parte, é porque ele escolheu essa forma, entre todas, para exprimir a si mesmo no mundo material. Como diz o Gênesis, Deus fez tal e tal coisa, “e viu que era bom”. 

Há um poema do cientista polonês Miroslav Holub, "Zito, the Magician", em que um mágico, na corte do rei, faz surgir uma porção de coisas impossíveis: uma estrela negra, água seca, etc. Então alguém lhe pede para produzir “um seno de alfa maior do que 1”. O mágico empalidece: “Sinto muito,” diz ele, “seno de alfa está situado entre +1 e –1”. E vai embora derrotado. Uma bela fábula para mostrar que certos milagres não batem com a vontade de Deus.





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