(Thomas Ligotti)
Na literatura existem dois focos distintos (para simplificar uma situação muito mais cheia de nuances) onde se concentram duas formas de produzir textos. Vamos chamá-los de Alta Literatura e de Literatura de Massas. Na primeira estão aqueles autores que constituem o cânone literário, os mais capazes praticantes da arte. São autores diferenciados, personalíssimos, de perfil inconfundível, mas compartilham alguns traços: visão profunda e complexa do mundo e da vida; e domínio da palavra escrita capaz de recriar a profundidade e complexidade dessa visão.
Na Literatura de Massas a visão é mais rasa e não vai muito além do que é consensual ou largamente aceito. É uma visão com menor índice de contribuição individual, e mais apegada ao clichê. O estilo não inova, apenas procura usar com eficiência os recursos expressivos criados por outros autores e já assimilados pelo público. O típico autor da Literatura de Massas procura criar poucos problema para ser compreendido pelo leitor. O que ele quer é ganhar tempo e “ir direto ao assunto”.
Na Alta Literatura, o Inconsciente está presente no processo de auto-revelação implícito no ato da escrita, e da escrita considerada de alto nível. Todo o material inconsciente que aflora durante o processo de criação é assimilado pelo intelecto criador e regente, ao qual cabe dar a última palavra. Por mais que o autor de Alta Literatura pareça delirante, caótico, incoerente (neste aspecto pode-se pensar na primeira impressão causada por um texto de James Joyce, ou Samuel Beckett), percebe-se afinal na elaboração do texto um intelecto poderoso em ação, mesmo que seja um intelecto trabalhando num plano além do racional.
No caso do autor da Literatura de Massa, pode-se dizer que, em vez de dominar o texto, é dominado por ele. Este tipo de autor escreve para consumo imediato. Não o faz para exprimir idéias pessoais ou suas próprias emoções, mas para satisfazer as expectativas de um público. Recorre a si mesmo porque isto é inevitável no processo da escrita, mas para ele importa muito mais “o que o público quer ler” do que “o que eu tenho a dizer”. Como diz o escritor Thomas Ligotti, “a arte é feita para exprimir as emoções do artista; o entretenimento é feito para produzir emoções no público”.
Pela natureza de seu ofício, o autor de Literatura de Massas dialoga com o público de maneira mais superficial que o outro Autor, mas de uma maneira mais próxima e imediata. O autor das Massas é um sismógrafo do gosto que lhe é contemporâneo, do Espírito do Tempo. Se o grande autor revela seu próprio Inconsciente, cabe ao autor popular revelar o Inconsciente Coletivo de sua sociedade e de sua época. Dois grandes grupos de autores podem servir como exemplos típicos deste processo: os autores de folhetins europeus do século 18 (Alexandre Dumas, Ponson du Terrail, Eugene Sue, etc.) e os autores da “pulp fiction” norte-americana nas décadas de 1920-1940.
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