Com este título, inspirado no faroeste clássico de John Ford, o jornalista Moacir Assunção publicou (Rio, Ed. Record, 2007) mais uma obra na bibliografia sobre Lampião. Desta vez, o foco não cai sobre o cangaceiro, embora muita coisa seja dita sobre sua vida, sua família e seus combates. Como o título indica, Assunção se volta para os antagonistas de Virgolino Ferreira, tanto os que foram por ele próprio considerados seus inimigos mortais – seu ex-vizinho Zé Saturnino, o chefe de volantes Zé Lucena, quanto Mané Neto, um dos mais valentes perseguidores dos cangaceiros, e João Bezerra, o chefe da volante que em julho de 1938 surpreendeu o bando de Lampião na famosa Grota de Angicos e matou 11 deles, entre os quais o Capitão e sua mulher Maria Bonita.
Assunção é um jornalista dedicado, que além de consultar livros e jornais viaja pelos lugares onde os fatos aconteceram e entrevista os sobreviventes dessas epopéias sertanejas de quase um século atrás. A história do cangaço vive sendo reescrita sem parar, mas uma das coisas que mais prejudicam sua compreensão é o intenso emocionalismo de muitos que escrevem contra ou a favor. Para uns Lampião era um criminoso sádico, interesseiro, bajulador de coronéis; para outros, um cavaleiro andante combatendo injustiças, perseguido por governos corruptos e policiais sanguinários. Ora – como se diz por aí, “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”. Relatos imparciais são sempre bem vindos, quando mais não seja para colocar os fatos em primeiro plano.
O livro tem histórias trágicas, episódios curiosos. Um detalhe interessante é a menção ao combate em 1924 entre Lampião e as forças de Teophanes Ferraz Torres, perto da Lagoa do Vieira (PE); ferido no pé, Lampião passou 40 dias escondido na Serra do Catolé, nas proximidades da Pedra do Reino, ou Pedra Bonita.
Uma história que me comoveu foi a do massacre da família Gilo, na Fazenda Tapera (PE). Um cabra de Lampião chamado Horácio Grande era inimigo do fazendeiro Manoel Gilo, e falsificou uma carta em nome dele, insultando e desafiando Lampião. Lampião foi até lá com o bando, e depois de uma noite de tiroteio matou 13 pessoas entrincheiradas na casa da fazenda. O velho Manoel foi o último: trazido à presença de Lampião, afirmou que não tinha mandado carta alguma, até porque não sabia escrever, e que o autor da mentira era Horácio. Este puxou do revólver e matou o fazendeiro ali mesmo. Fosse eu o Rei do Cangaço, o tal do Horácio não ficava vivo nem mais um minuto. Lampião limitou-se a expulsá-lo do bando.
O livro de Assunção não tem a profundidade interpretativa de outro que estou folheando, Guerreiros do Sol, de Frederico Pernambucano de Melo. Como a maioria dos livros sobre cangaço, é uma recolha de episódios contados e recontados de diferentes pontos de vista. Pertence ao que poderíamos chamar de “história oral preservada por escrito”.
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