terça-feira, 2 de junho de 2009

1064) A Enciclopédia Galáctica (13.8.2006)



Nunca pensei que veria, no meu tempo de vida, algo parecido com a Enciclopédia Galáctica sonhada por Isaac Asimov, ou com o que B. R. Bruss assim descreve em sua space-opera O Grande Ser (Editora Vecchi, 1963): “Esta conversa desenrolava-se numa das inúmeras dependências do Centro de Arquivos Históricos Galácticos,cujos prédios enormes cobriam várias centenas de hectares do que fora outrora o Arizona. O Centro fora fundado mais de dezoito mil anos antes e desde então fora ampliado de forma espantosa. (...) Saltaram na entrada do vasto salão onde se achava “Josefa”. Centenas de homens trabalhavam em silêncio ao redor da gigantesca máquina. (...) Não era a própria Josefa quem fornecia informações históricas. Sua tarefa era fornecer referências e enviar informações a outras máquinas, as quais eram, de alguma forma, a memória histórica da Galáxia. No Centro havia duas ou três mil máquinas, algumas de dimensões consideráveis”.

A World Wide Web de hoje concretiza este sonho dos escritores. Uma das melhores coisas da FC é ver o quanto suas previsões se realizam pelo avesso. O exemplo mais citado pelos historiadores é o fato de que milhares de autores previram o desembarque do homem na Lua, mas nenhum imaginou que isto seria visto no mundo inteiro através da TV. Arrisco a hipótese de que é mais fácil prever o desenvolvimento da Astronáutica, que é de natureza mais concentrada, mais afunilada, do que o desenvolvimento das telecomunicações, que precisam se disseminar entre a população, e mantêm com ela um “feed-back” mais intenso de influências mútuas.

A Enciclopédia Galáctica imaginada nos anos 1950 se inspirava na imagem do computador gigantesco, do tamanho de um edifício. Imaginava-se que quanto mais potente um “cérebro eletrônico” (como eram chamados), maior seria. Ledo engano. Os computadores cresceram para dentro, e não para fora. Não cresceram no sentido da expansão, mas da subdivisão, do particionamento, do aproveitamento em escala micrométrica das menores unidades possíveis do material que compõem seus chips e suas unidades de armazenamento. Leio no jornal que acaba de sair o novo chip da Intel, um tal de “Core 2 Duo”, com capacidade equivalente a 291 milhões de transistores. E é desse tamanhinho.

O tamanho reduzido dos computadores de hoje faz com que, em vez de cobrirem “centenas de hectares do que fora outrora o Arizona”, eles se espalhem em minúsculos fragmentos, que antes eram chamados “computadores pessoais”, e agora são mais e mais chamados de “meu celular”. O computador, o nosso familiar PC doméstico (ou Mac, para os mais sofisticados) foi a imagem dessa revolução nos anos 1980. O modem, o aparelhozinho capaz de nos plugar na rede neuronial da World Wide Web, foi o seu símbolo nos anos 1990. Agora, de 2000 em diante, é o celular, cuja função de telefone recua cada vez mais para dar lugar às funções de Monitor de Acesso à Enciclopédia Galáctica.

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