quinta-feira, 16 de abril de 2009

0982) A Cientologia (10.5.2006)


(L. Ron Hubbard)

A Cientologia, que no início de sua história era chamada de Dianética, é uma atividade híbrida de Ciência e Religião, inventada por um escritor de ficção científica chamado L. Ron Hubbard. Bastaria isto para torná-la um símbolo de nossa época, ou melhor, da época pós-II Guerra Mundial, quando a popularização da Psicanálise inspirou a invenção de numerosas terapias vagamente científicas, cada uma delas prometendo curas milagrosas. Vou logo avisando que minha visão da Cientologia é preconceituosa, porque ouvi falar dela pela primeira vez no formidável livro de Martin Gardner, Manias e Crendices em Nome da Ciência (que, aliás, também me deixou desconfiado para sempre com Wilhelm Reich). Se o leitor quiser a visão oficial vá em: http://www.lronhubbard.org/, ou então telefone para Tom Cruise e John Travolta, que são adeptos, e talvez conheçam o assunto melhor do que eu.

Hubbard era um sujeito ruivo, corpulento, falastrão, incansável, sempre contando aventuras mirabolantes sobre si próprio, tão divertidas que a questão de serem verídicas ou não ficava em segundo plano. Ganhava a vida escrevendo histórias de ficção científica, num longo rolo de papel (como fazia Jack Kerouac), para não perder tempo trocando de página. Traduzi dois livros seus (Gênese Negra e O Plano dos Invasores) para a Editora Record. É uma pulp-fiction interplanetária descartável, cômica, verbosa, mistura de Flash Gordon com Mel Brooks. Por justiça, afirmo aqui que sua noveleta Fear (1940) é uma das melhores histórias de terror psicológico que já li.

Reza a lenda que um dia Hubbard desabafou: “Chega de escrever FC e ganhar uma merreca! Vou inventar uma religião e ficar milionário!” No número de maio de 1950, a revista Astounding Science Fiction, da qual ele era colaborador, publicou um longo artigo sobre a Dianética, uma revolucionária técnica de auto-análise capaz (segundo ele) de curar qualquer problema psicológico, e também de desenvolver super-poderes mentais. A idéia fascinou o editor da revista, John W. Campbell, além de outros escritores como A. E. Van Vogt. A Dianética tornou-se uma febre nos EUA, seus livros viraram tremendos best-sellers.

Em 1955 Hubbard abandonou a Dianética e fundou uma religião que absorvia seus ensinamentos, a Cientologia. Diz-se que o fez para se beneficiar da isenção de impostos que as igrejas geralmente recebem dos governos. A Cientologia é muito discutida na comunidade de ficção científica porque foi a primeira religião criada por um de seus escritores, e ainda hoje se discute se isto foi uma boa coisa ou não. Surgiu nas revistas de FC, como surgiu o mito dos discos voadores como naves extra-terrestres (foi na revista Fate que Kenneth Arnold publicou em 1948 seu primeiro relato de “avistamento” dos OVNIs). Sempre existiu uma tênue linha divisória entre ficção e realidade, no mundo da FC. Com Hubbard, essa linha virou um marco plantado na zona fronteiriça entre Ficção, Ciência e Religião.

Nenhum comentário: