segunda-feira, 23 de março de 2009

0907) A Copa de 66 (11.2.2006)


(Blow-Up)

Vi no Canal Sportv o filme oficial da Copa do Mundo de 1966. Para nós, essa Copa tem um gosto azedo, tendo sido a única vez, acho, em que o Brasil caiu logo na primeira fase. Os ingleses foram campeões um tanto “na marra”. Tinham um defensor, um tal de Stiles, que batia que dava gosto; e na decisão tiveram validado um gol mais do que fajuto, onde a bola não entrou.

Acho que uma conexão que a imprensa nunca explora, que parece não ocorrer hoje a ninguém, é o fato de que a Londres onde aconteceram aquela Copa e aquela decisão foi a “Swinging London” dos Beatles e dos Rolling Stones, de Carnaby Street e Mary Quant, e que aquela vitória no estádio de Wembley veio em sintonia com um momento mágico vivido pelo país em todos os setores, mas de modo especial na música popular e no cinema.

Ian MacDonald lembra que “o verão de 1966 foi especialmente alegre e turbulento, e 'Good Day Sunshine', composta numa tarde quente por McCartney, na mansão de Lennon, foi uma das muitas canções que souberam captar com precisão essa atmosfera”. Quando a Copa do Mundo teve início, em 11 de julho, os Beatles tinham encerrado há pouco a gravação do álbum Revolver (que seria lançado em 5 de agosto), e estavam no meio de sua última turnê, uma das mais acidentadas. (Tiveram um mal-entendido com a Primeira Dama das Filipinas. sendo escorraçados do país em 5 de julho, e depois se recusaram a tocar no dia 20 na África do Sul, devido ao “apartheid”.)

Quando a Inglaterra ergueu a taça no dia 30 de julho, ao derrotar a Alemanha por 4x2, começava a pipocar a polêmica devido à frase “somos mais famosos do que Jesus Cristo”, dita por Lennon. Foi o ano em que Michelangelo Antonioni desembarcou em Londres e pintou de verde a grama de um parque para filmar um conto de Julio Cortázar (Blow-up). Roman Polanski tinha acabado de lançar Armadilha do Destino, filmado no interior das ilhas britânicas. Richard Lester, o “diretor dos Beatles”, estava dirigindo Buster Keaton e Zero Mostel em Um escravo das Arábias em Roma. O seriado de ficção científica Dr. Who era o grande sucesso na TV. Truffaut tinha vindo da França para rodar Fahrenheit 451 nos estúdios Pinewood. Joseph Losey tinha lançado sua adaptação das aventuras da heroína dos quadrinhos, Modesty Blaise.

A Inglaterra campeã do mundo tinha um time antipático, que batia muito, mas com alguns craques (Banks, Hurst, Best, Charlton). Afora isto, era o país da moda no universo pop, graças ao cinema e à música popular que brotavam ali. Esta sensação de onipotência e alegria se reflete no famoso episódio do locutor Kenneth Wolstenholme, que transmitia o jogo final. Com 3x2 para a Inglaterra, ele observava: “Há alguns torcedores na beira do campo, eles acham que o jogo já acabou...” Nesse instante, Hurst invadiu a área e marcou o quarto gol, fazendo-o gritar: “Acabou agora!” Naquele ano, o Submarino Amarelo foi a ilha ancorada na Mancha.

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