Acho que para as gerações mais novas o título acima é em código, mas para o pessoal da minha idade deve fazer soar um sinozinho de reconhecimento.
Quando leio algo sobre a história do Rio de Janeiro e me deparo com termos como “o zé-pereira”, “o entrudo”, e outros, fico pensando nessas épocas pré-históricas do Carnaval, e aí me toco de que vivi épocas igualmente paleolíticas.
Vou contar como era. A Crise do Petróleo aconteceu no começo da década de 1970, quando os países árabes pela primeira vez perceberam que eram donos da maior fonte de energia do planeta, e que podiam muito bem chantagear nações mais poderosas como, na época, os EUA e a União Soviética. Levaram preço do petróleo às nuvens, e o mundo se apavorou.
Até então, gasolina era quase o preço de água da bica, e entre os efeitos colaterais mais interessantes dessa situação estava o Corso (que a Crise do Petróleo extinguiu).
No Carnaval, todo mundo arrumava um carro (de preferência um jipe velho), enchia de amigos, botava apitos estridentes no cano de escape, e ficava rodando num “loop”.
A fila de carros descia pela Floriano Peixoto rumo à Maciel Pinheiro, virando à direita na esquina da Associação Comercial. Quando chegavam no fim da Maciel Pinheiro, naquele larguinho onde se tem à direita o Chope do Alemão, viravam à esquerda, subindo até a lateral do Edifício Rique, onde se virava novamente à esquerda, pegando a Marquês do Herval, passando em frente ao Alfredo Dantas, rodeando a Praça da Bandeira para pegar novamente a Floriano Peixoto, rumo à Catedral.
Ao subir ali pela parte de trás da Prefeitura (o antigo “Grande Hotel”), no entanto, pegava-se à direita a Afonso Campos, até passar por trás da Catedral, subir à esquerda e pegar novamente a Floriano Peixoto, para voltar a descer rumo à Maciel Pinheiro.
Havia mudanças, claro, de ano para ano, mas o importante é que levava-se cerca de uma hora, uma hora e meia para dar uma volta completa.
Os carros esbarravam-se o tempo todo, daí o costume de comprar pneus velhos e amarrá-los à frente e atrás. Buzinava-se, cantava-se a plenos pulmões, batia-se em tamborins. E o melhor de tudo era o “mela-mela”, porque o objetivo desse carrossel de bêbos era melar quem estava nas calçadas e nas janelas vendo o desfile, e ser melado por eles.
No carnaval de 1972 pegamos um panelão daqueles de preparar buchada, descemos com o jipe pela Feira, derramando dentro do panelão tudo que encontrávamos. Litros de mel de abelha e mel de rapadura, maizena, água, tubos e mais tubos de pasta de dentes, brilhantina, sorvete, farinha de trigo, maionese, leite condensado...
Depois de cheio, o panelão continha uma massa pastosa com a qual untávamos meia Campina Grande. Só saía com sabão-de-coco e caco-de-telha, e às vezes durava até a Semana Santa. O cabelo, bem, esse ia embora na Quarta-feira de Cinzas.
E cinzas foi o que ficou disto tudo, mas que adubo melhor do que cinzas, para fertilizar a imaginação?
Quando leio algo sobre a história do Rio de Janeiro e me deparo com termos como “o zé-pereira”, “o entrudo”, e outros, fico pensando nessas épocas pré-históricas do Carnaval, e aí me toco de que vivi épocas igualmente paleolíticas.
Vou contar como era. A Crise do Petróleo aconteceu no começo da década de 1970, quando os países árabes pela primeira vez perceberam que eram donos da maior fonte de energia do planeta, e que podiam muito bem chantagear nações mais poderosas como, na época, os EUA e a União Soviética. Levaram preço do petróleo às nuvens, e o mundo se apavorou.
Até então, gasolina era quase o preço de água da bica, e entre os efeitos colaterais mais interessantes dessa situação estava o Corso (que a Crise do Petróleo extinguiu).
No Carnaval, todo mundo arrumava um carro (de preferência um jipe velho), enchia de amigos, botava apitos estridentes no cano de escape, e ficava rodando num “loop”.
A fila de carros descia pela Floriano Peixoto rumo à Maciel Pinheiro, virando à direita na esquina da Associação Comercial. Quando chegavam no fim da Maciel Pinheiro, naquele larguinho onde se tem à direita o Chope do Alemão, viravam à esquerda, subindo até a lateral do Edifício Rique, onde se virava novamente à esquerda, pegando a Marquês do Herval, passando em frente ao Alfredo Dantas, rodeando a Praça da Bandeira para pegar novamente a Floriano Peixoto, rumo à Catedral.
Ao subir ali pela parte de trás da Prefeitura (o antigo “Grande Hotel”), no entanto, pegava-se à direita a Afonso Campos, até passar por trás da Catedral, subir à esquerda e pegar novamente a Floriano Peixoto, para voltar a descer rumo à Maciel Pinheiro.
Havia mudanças, claro, de ano para ano, mas o importante é que levava-se cerca de uma hora, uma hora e meia para dar uma volta completa.
Os carros esbarravam-se o tempo todo, daí o costume de comprar pneus velhos e amarrá-los à frente e atrás. Buzinava-se, cantava-se a plenos pulmões, batia-se em tamborins. E o melhor de tudo era o “mela-mela”, porque o objetivo desse carrossel de bêbos era melar quem estava nas calçadas e nas janelas vendo o desfile, e ser melado por eles.
No carnaval de 1972 pegamos um panelão daqueles de preparar buchada, descemos com o jipe pela Feira, derramando dentro do panelão tudo que encontrávamos. Litros de mel de abelha e mel de rapadura, maizena, água, tubos e mais tubos de pasta de dentes, brilhantina, sorvete, farinha de trigo, maionese, leite condensado...
Depois de cheio, o panelão continha uma massa pastosa com a qual untávamos meia Campina Grande. Só saía com sabão-de-coco e caco-de-telha, e às vezes durava até a Semana Santa. O cabelo, bem, esse ia embora na Quarta-feira de Cinzas.
E cinzas foi o que ficou disto tudo, mas que adubo melhor do que cinzas, para fertilizar a imaginação?
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