quarta-feira, 26 de março de 2008

0292) Debruçado sobre Abbey Road (26.2.2004)




(Turistas em Abbey Road, 30.5.2005. A foto dos Beatles foi tirada de lá para cá, do ponto onde há um automóvel)

Tem gente que gosta de assistir ao “Big Brother” da Globo. Eu assisti do começo ao fim o primeiro, o que foi ganho por Kléber Bambam. E olhe, até que me diverti bastante. O primeiro ainda tinha (como direi?) um certo frescor, uma certa ingenuidade. Ninguém sabia como era, e a coisa foi meio na base do improviso. Hoje, todo mundo “tá ixperto”: já ensaiou, já praticou, já bolou estratégias. Já deve haver até curso-preparatório-para-candidatos-ao-Big-Brother. 

Dá pena aquele bando de marmanjos e de popozudas, todo mundo jovem, musculoso, saudável, cheio de energia, sendo infantilizado em público, fazendo umas “provas” idiotas – catar bolas de plástico numa piscina, ficar 3 dias segurando um abacaxi... E tem uns tais “jantares a fantasia” que... Pelo amor de Deus. 

É tudo uma pose desgraçada, umas caras-e-bocas insuportáveis. No fim de tudo, o mais espertalhão ganha 500 paus, os outros viram arroz-de-festa, e as mulheres fazem fotos de arte-ginecológica para revistas masculinas.

Eu não quero bancar o intelectual pentelho, esnobe. Sou muito popularesco, e ao contrário de alguns amigos meus não acho que a TV deva se dedicar a exegeses sobre a obra de Proust ou a encenações do “Rei Lear” na Sessão da Tarde. 

TV é TV: é quermesse, é rádio-com-auditório. Tem quem queira ver “Big Brother” 24 horas por dia. Cada um vê o que lhe interessa. 

Eu, por exemplo, tenho um passatempo totalmente idiota: a webcam de Abbey Road. Uma câmara (como aquelas de segurança em shopping ou condomínio) cuja imagem é transmitida por um saite de Internet. Se você fôr para https://www.abbeyroad.com/crossing  vai ver a imagem, nesse momento exato, da faixa de pedestres atravessada pelos Beatles na capa do disco “Abbey Road”, em frente ao estúdio. São 24 horas por dia! Maravilha.

Agora mesmo, no instante em que escrevo, são 2:50 da madrugada (horário de verão) aqui no Rio, portanto devem ser 4:50 em Londres. A câmara pega a rua em diagonal do canto inferior esquerdo ao superior direito, e a famosa faixa passa à altura do meio da imagem. Está uma noite chuvosa, asfalto molhado, trânsito escasso. 

Há um carro parado há horas do lado direito; ruas e calçadas estão vazias. Agorinha mesmo passou uma espécie de van azul, compridona, seguida por dois automóveis. Alguns minutos antes passaram a pé dois caras conversando, um de casaco claro, outro de escuro. Agora, passou uma van branca. Parece chato, né? De dia é mais movimentado, juro.

Distrair-se é poder fazer associações de idéias com o que nos é mostrado. Não me acho nem mais nem menos idiota, debruçando-me sobre uma rua deserta, do que quem assiste o “Big Brother” ou qualquer outra coisa. Só vemos nas coisas, amiguinhos, o que já temos dentro de nós. Essa rua deserta pode ser para alguém a madeleine de Proust, o aleph de Borges, a pedra-no-caminho de Drummond, o ponto-ômega de Teilhard de Chardin... Eita, passou um ônibus de dois andares!






2 comentários:

Anônimo disse...

No momento que acessei a tal câmera passaram três pessoas em fila indiana. Se fossem quatro eu ia achar que era uma gravação...

Anônimo disse...

Essa câmera é ao vivo mesmo. Pode mudar o horário do computador e ela continua mostrando a mesma imagem. Diferente da imagem do satélite da NASA, que é apenas uma gravação, mas eles juram que é transmissão direta...