Muitas obras de arte tornam-se beneficiárias ou vítimas de um contexto qualquer, e passam a ter um significado diferente do que tinham. Uma canção, muitas vezes, é vinculada a um contexto que seus autores absolutamente não previam, e vê-se arrancada de seu significado original, passa a significar outra coisa. Uma canção meio obscura que é usada num programa de sucesso, por exemplo, acaba ficando o resto da vida associada ao significado que ganhou ali.
O samba de Luiz Bandeira “Na
cadência do samba (Que bonito é)” (http://tinyurl.com/p8gmb7w),
que era usado nas famosas coberturas de futebol do Canal 100, na gravação da
orquestra de Waldir Calmon, acabou se tornando uma espécie de hino não-oficial
do futebol no Brasil. Onde quer que essa música venha a soar, todo mundo (ou
pelo menos quem viveu aquela época, como eu) pensa logo em futebol.
Claro que há canções que são feitas quase que
propositalmente em função de um contexto não-musical, não-estético, mesmo que
satisfaçam a esse requisito (=sejam boas canções). É o caso de canções políticas, engajadas, feitas com uma certa
intenção de se colar a esse contexto: clássicos tipo “Caminhando” de Vandré,
“Blowin’ in the Wind” de Bob Dylan, “Le déserteur” de Boris Vian e outras. São
canções que pretendem se beneficiar de um contexto social onde o autor tem
quase certeza de que a música terá imediata repercussão.
O curioso é quando essas associações de idéias são criadas aleatoriamente, recobrindo a música, principalmente a música erudita de séculos atrás, de um contexto que jamais passaria pela cabeça dos seus compositores. Imagino a surpresa dos autores de “Assim falou Zaratustra” ou de “Carmina Burana” se vissem a multiplicidade de contextos a que suas composições são associadas hoje em dia, simplesmente pelo impacto melódico e sonoro que produzem.
“In the Hall of
the Mountain Kings”, de Edvard Grieg (aqui: http://tinyurl.com/bjn7348),
da ópera “Peer Gynt”, ficou definitivamente associada ao filme de terror depois
que foi usada na trilha sonora de “M, o Vampiro de Dusseldorf” de Fritz Lang.
Soando aquelas notas, brotarão de nossa memória dezenas de situações de perigo
ou ameaça que essa musiquinha inocente, sem querer, veio a sublinhar.
O mesmo vale para a famosa “Cavalgada das
Valquírias” de Wagner (http://tinyurl.com/nxgb76l),
que teve muitas utilizações no cinema, nenhuma tão marcante quanto a da cena
dos helicópteros bombardeando o Vietnam com napalm em “Apocalipse Now” de
Coppola.
E nem vou me deter muito no “Pour Élise” de Beethoven, que por percursos
insondáveis acabou virando em nossas cidades o tema musical do caminhão do gás.
O curioso é quando essas associações de idéias são criadas aleatoriamente, recobrindo a música, principalmente a música erudita de séculos atrás, de um contexto que jamais passaria pela cabeça dos seus compositores. Imagino a surpresa dos autores de “Assim falou Zaratustra” ou de “Carmina Burana” se vissem a multiplicidade de contextos a que suas composições são associadas hoje em dia, simplesmente pelo impacto melódico e sonoro que produzem.
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