sexta-feira, 14 de março de 2014

3446) Os dois escorpiões (14.3.2014)




(Josef Stálin, Bernard Madoff)

O Comunismo era um escorpião feito de ferro, cimento, vapor, eletricidade, com duzentos milhões de células humanas. Karl Marx dizia que o comunismo só poderia ser estabelecido num país plenamente desenvolvido e industrializado, como a Inglaterra ou a Alemanha de seu tempo.  Por uma dessas ironias da História, Lênin tentou implantá-lo na Rússia, o país mais vasto do mundo, e um dos mais atrasados, embora tivesse uma elite refinada, cavalheiresca e culta. Confirmando a advertência de Marx, não deu certo. Lênin morreu no meio do caminho e foi substituído por Stálin, um dos exemplos mais rematados de gangster que a história já conheceu.  Questionar o comunismo alegando Stálin é como questionar o Islã alegando Saddam Hussein. Se Marx tivesse visto a Revolução Russa teria ficado furioso com as liberdades filosóficas e partidárias tomadas por Lênin. Se visse Stálin, daria um tiro nos miolos.  Lênin tinha muitos defeitos (inclusive caretice poética e cinematográfica) mas era um pensador de verdade e um ativista de verdade, numa só pessoa.  Já Stálin era um Al Capone  canastrão, cercado de ghost-writers.  Como todo gangster bem sucedido, tinha faro de fera e olho de rapina quando se tratava de guerras ou de intrigas palacianas.  O Stalinismo começou a afundar com sua morte, mas só terminou quando caiu o Muro de Berlim.  O Comunismo (sua versão soviética) suicidou-se ritualmente por excesso de concentração, de centralização, de fechamento e colapso em black-hole.

Já o nosso confortável Capitalismo está morrendo por excesso de Liberdade, ou melhor, pela enorme plasticidade com que esta importante palavrinha se encaixa em qualquer discurso. A atual mega-crise financeira cujo abalo mais forte foi em 2008 parece ser uma combinação de filosofias de lucro a qualquer custo e lealdades a qualquer preço.  Não o espectro comunista, mas o fantasma da liberdade: “o mercado tem que ser livre”.  Ou seja, eu devo ser livre para mudar as regras do jogo que meu time está disputando.  Houve um desmonte programado de fiscalizações, atividades de agências reguladoras, trocas de poder, vitórias pirotécnicas de um grupo de investidores sobre outros. Na América, a terra natal do dinheiro eletrônico, isso virou um jogo, onde até mesmo os bilhões ficam em segundo plano. Mais importante do que ser rico é ter desempenho nesse complicado RPG, um game que esses grandes investidores praticam a sério. A URSS morreu de concentração centrípeta, os EUA vão morrer de espiral centrífuga.  O Capitalismo é um escorpião feito de néon, silício, LCD, vapor browniano e filamento incandescente de carvão.





4 comentários:

Jean disse...

Os casos conhecidos de comunismo se deram em países não desenvolvidos. A China também o era antes da revolução, mas está vindo aí, para quem pensava que não havia futuro para o comunismo, o desenvolvimento industrial deste país está fazendo os pensadores repensar. Que tipo de escorpião será a China?

Celina Beatriz Villanova disse...

Excelente texto!

Tássio Oliveira disse...

Texto raso e desonesto. Passou boa parte tentando colocar os crimes do comunismo soviético num "stalinismo".
Você anda vendo muito vídeo de Luciana Genro no youtube

M. Exenberger disse...

Lamentavelmente, os stalinistas se recusam a fazer qualquer mea culpa sobre os erros políticos que levaram ao fim da União Soviética e da queda do muro de Berlim. É óbvio que Stálin foi um bom administrador, transformou a URSS numa superpotência. Por outro lado, cometeu graves equívocos políticos, sem falar nos terríveis Processos de Moscou, que permitiram a vitória de Franco na Espanha, a ascensão do nazifascimo na Europa e o esfacelamento do Partido Comunista em vários países importantes, como Alemanha, Franca, Itália e Brasil. Para os stalinistas, a culpa é sempre do trotskismo, sendo que eles percorreram dez mil quilômetros para matar Trotsky, um velho moribubdo, no México, e não viajaram menos de dois mil quilômetro até Berlim para destruir Hitler. Esse erro custou a vida de 25 milhões de russos comunistas. Por culpa de Stálin, que se recusou a apoiar a revolução chinesa e estabelecer relações comerciais com o maior mercado consumidor do mundo, hoje é a China comunista quem dá sobrevida ao capitalismo.