O ofício literário é cheio de mitos bons e maus. Um dos
piores é o “bloqueio do escritor” (“writer’s block”), o popular “branco”, que
acontece quando o sujeito se vê meio que congelado, a mente imobilizada,
incapaz de produzir uma única idéia, uma única frase. Eu sei o que é ficar
empacado num conto ou num romance – aliás, tenho mais contos empacados do que
contos publicados. Chega um ponto em que a gente não enxerga o que vai
acontecer em seguida, ou enxerga mas não consegue encontrar o tom de voz
adequado para dizê-lo. A gente para e vai fazer outra coisa, à espera de que o
problema esteja resolvido na próxima vez em que a gente tentar. Às vezes se
resolve sozinho. Geralmente, não.
O escritor Steven Brust, interrogado sobre o que faz quando
lhe “dá o branco”, respondeu: “Externamente, ando pela casa pisando forte,
dando olhares ameaçadores para todos, e ameaçando matar o cachorro, até que
finalmente consigo desenganchar, e então tudo melhora, eu percebo o quanto estou
me divertindo em escrever aquilo, peço desculpas a todo mundo que possa ter
ofendido, e ameaço matar o cachorro. Por dentro, eu fico checando todos os
conselhos que dou aos meus alunos sobre como visualizar a próxima cena (o que
às vezes funciona). E digo para mim mesmo o tempo todo: você já passou por
isso, é parte do processo, fica frio, vai dar certo. Releio o que escrevi até
aquela altura. Examino listas de desdobramentos possíveis. Ou então ignoro o
livro por completo e tento pensar em outras coisas. Escrevo críticas
imaginárias na minha mente, culminando com o trecho em que o crítico imaginário
diz: ‘Mas o melhor momento do livro é quando...’, e tento concluir a sentença
descrevendo o trecho do livro que não estou conseguindo escrever. Cedo ou tarde,
alguma combinação desses procedimentos funciona, e a vida volta a ser uma coisa
boa. Exceto pelo cachorro. Continuo ameaçando livrar-me dele.”
3 comentários:
Eu não sou escritor,mas eu estou nessa fase de branco.
Para quem é escritor deve ser bem ruim. Já pensou você ter um compromisso de entregar um texto e não consegui, dificilmente o patrão vai entender. Ou,escrever um conto, e nada dele se desenvolver. Isso pode até criar algumas coisas do tipo: será que ainda eu sou capaz? Eu posso ainda ser chamado de escritor?
Estimulante
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