segunda-feira, 8 de julho de 2013

3231) Rorschach (6.7.2013)




Este sobrenome evoca o criador dos famosos cartões com borrões de tinta que os psicólogos mostravam aos pacientes, pedindo uma interpretação. A primeira vez que ouvi falar neles foi num livro de FC da antiga Coleção Futurâmica, Pânico na Terra de L. R. Fanthorpe. Um capítulo inteiro, numa nave, mostra a psicóloga da equipe submetendo todos os oficiais a esse teste, e qualificando o resultado de cada um. Muitos desses borrões são simétricos, porque produzidos através de respingos de tinta num cartão que é depois dobrado sobre si mesmo, e desdobrado depois, exibindo as manchas.

Muitos anos atrás vi numa revista francesa de cinema, em algum lugar, a expressão “Glauber Rorschach” para se referir ao diretor baiano. A vantagem das imagens Rorschach é que elas permitem uma grande variedade de interpretações. Estas não são totalmente espontâneas. O borrão simétrico induz uma semelhança inconsciente com plantas ou com animais que têm esse tipo de estrutura.

O personagem chamado Rorschach na série dos Watchmen (roteiro para quadrinhos de Alan Moore, filme de Zack Snyder) tem uma máscara como um tecido branco cobrindo sua cabeça e seu rosto inteiro. Nessa superfície branca de tecido flutuam e deslizam manchas negras, num movimento perpétuo, como um protetor de tela escondendo o verdadeiro rosto de alguém. Talvez os borrões pretos no espaço branco reflitam o nosso moído mental inconsciente, que nunca cessa, nunca diminui, e nunca chega a lugar nenhum. Um holograma da mente humana.

E como é possível haver um tecido assim, por onde as manchas passem sem deixar rastro? Poderíamos estabelecer (quem é de FC pensa logo em algo deste jeito) que esse tecido é uma espécie de superfície polímera, recoberta de pequenas estruturas em forma de poliedro bidimensional (no caso, mais precisamente, em forma de hexágono). Cada hexágono-célula pode estar apagado ou aceso, zero ou um. Como ele está cercado por seis outros hexágonos, podemos estabelecer que o fato dele ser preto ou branco depende de cada condição momentânea dos seis que o limitam. Se em cada microssegundo houver em volta dele, por exemplo, cinco positivos e um negativo (ou seis positivos e nenhum negativo), positiva ela será. Se no instante seguinte as outras mudarem, ficando, p. ex., quatro negativas e duas positivas, a célula no centro desse círculo imediatamente ficará negativa. O estado de cada ponto luminoso dependerá dos que o cercam, mas nenhum deles controla o processo.

As manchas negras na máscara branca de Rorschach têm a imprevisibilidade estatística das tempestades, dos terremotos, de tudo que é tão grande que não pode ser previsto a curto prazo.


3 comentários:

Alliah disse...

Tem um cara que criou uma máscara parecida com a dos quadrinhos. A tinta se move e cria padrões diferentes de mancha de acordo com a respiração da pessoa que veste a máscara.

Dá uma olhada no site do cara. Tem uns vídeos mostrando o funcionamento da coisa (:

http://www.rorschachmasks.com/


Abraço!

Braulio Tavares disse...

Valeu. Nas próximas manifestações bem que podiam usar Rorschach ao invés de Anonymous.

Anônimo disse...

Na verdade, a própria HQ apresenta uma solução teoricamente simples: "fluidos viscosos entre duas camadas de látex, sensíveis a calor e pressão." Não creio que o artista precise mais do que esta explicação simples e lógica para manter a verossimilhança. Além do que, pra completar, ele ainda explica o método para o corte do tecido (utilizando-se de metal quente, evitando o vazamento do fluido...). Ok, à parte a crença mitológica, que todo fã carrega sobre a obra, gostaria de acrescentar que é um prazer a leitura dos artigos do site.