(Tim Dooley)
Falei ontem sobre um poema de Christian Ward copiado de um
poema de Tim Dooley, que por sua vez pretendia ser uma paráfrase (homenagem?
citação?) do famoso poema de Pablo Neruda, “Walking around”. Dooley pode dizer
que estava apenas parafraseando ou citando (ele indica Neruda no título). Mesmo
assim, a maior parte do seu poema são frases de Neruda ao pé da letra. Pode-se
argumentar a seu favor que ele reconheceu a presença de Neruda, não quis agir
às escondidas. Muito bem, isso pode lhe dar pontos em honestidade, mas o
conjunto não lhe dá pontos em poesia.
Já o caso de Christian Ward me parece mais grave, pelo que
li. Ele só admitiu ter plagiado Dooley depois de ser flagrado plagiando outra
pessoa. Ward inscreveu no concurso para o Prêmio Hope Bourne o poema “The Deer
at Exmoor”, que foi o vencedor. Essa vitória tornou seu poema conhecido e logo
alguém, que tinha lido o poema de Helen Mort, mostrou que eram quase iguais.
Ward afirmou pela imprensa: “Eu estava escrevendo um poema sobre minha infância
em Exmoor e fui descuidado. Usei o poema de Helen Mort como modelo para o meu,
mas me precipitei e acabei enviando um rascunho que não era inteiramente obra
minha”.
Ora, idéias alheias todo mundo pega. O mínimo que pode fazer
é deixar claro, em público, que recorreu àquelas fontes. Eu tenho um poema
chamado “Blow-up” que dediquei a Michelangelo Antonioni, Julio Cortázar e César
Leal. São as minhas referências para a criação daquele poema que, mesmo assim,
me parece muito original, e meu (mas qualquer um dos citados, se o lesse,
descobriria na hora de onde ele veio). Já citei/parafraseei Drummond, Cabral,
Vila Nova, Dylan, Carlos Nejar, Pessoa, Leminski, Ginsberg... Não me orgulho
nem me envergonho disso. São estudos, exercícios. Meus poemas podem não ser
grande poesia, mas não são plágios, são reelaborações que eu defenderia em
qualquer tribunal.
Um comentário:
um exemplo bem clássico de se usar o alheio pra se fazer o próprio sem plágio é o BABEL E SIÃO de Camões onde ele usa todos os versos de um salmo e com a mesma ideia geral, mas faz um poema original, umas dez vezes maior e com qualidade superior, acho um bom exemplo pra se verificar o que é ou não plágio
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