sexta-feira, 13 de julho de 2012

2922) Não dá pra ler tudo (13.7.2012)








O aumento exponencial de textos eletrônicos disponíveis e gratuitos causa uma euforia sem limites e um pessimismo sem volta. Centenas de milhares de livros, milhares de filmes, milhões de músicas!  Tudo ao alcance de um clique, de graça!  O único senão é o fato de que o dia continua tendo apenas 24 horas.  Nosso tempo de leitura é o mesmo de que dispunham os leitores do século 18, ou mesmo os leitores da Grécia Antiga (e mesmo eles certamente se queixavam de que “não dava pra ler tudo”).  Esse “não dá pra ler” é relativo, e não faz muita diferença. Digamos que eu conseguisse ler um livro por dia; seriam 30 livros por mês.  Se meu limite é esse, não faz muita diferença se estou deixando de ler 100 livros ou um milhão.  Leio trinta, e acabou-se.

A questão é: Que trinta?  Porque era mais fácil escolher trinta entre 100 do que trinta entre um milhão. Não teríamos desculpa para estar lendo algo a contragosto, porque teríamos acesso, se não a tudo, pelo menos a uma quantidade inesgotável de obras que de fato queremos ler.  Tem muitos leitores de bibliotecazinhas humildes do interior, mundo afora, que ficam relendo seus autores preferidos, ou avançando aos bocejos por entre obras que não lhes interessam, apenas porque não aparecem livros novos.

E como ter acesso a informações novas, a autores que ainda não conhecemos? Cory Doctorow (do saite BoingBoing) diz: “Twitter e blogs são a única maneira de administrar a enorme quantidade de material disponível. Sem isto, ninguém sairia de sua órbita de contatos sociais, ninguém trocaria idéias com os milhões de pessoas que conhecem outros milhões, os polinizadores que pegam uma informaçãozinha aqui e levam para acolá. Sem eles, a conversa morreria. Essas pessoas garantem que o que é realmente bom acabará chegando ao topo da pilha e ficando acessível”.

O dia continua tendo apenas 24 horas, mas por isso mesmo é preciso preenchê-las bem. O leitor não deve imaginar que os milhões de livros possíveis de ler já lhe pertencem, ou estão de alguma maneira a cobrar-lhe um posicionamento. O leitor deve se perguntar: Entre trabalho e outras atividades, hoje em terei meia hora para ler.  Ou duas horas, ou cinco, etc.  Vou preencher esse tempo com que?  Você não precisa ter um iPod com mil romances, basta ter um livro por perto, um livro que lhe interesse. (Tanto pode ser digital quanto de papel.) Se você pensar nos mil livros extraordinários que gostaria de ler, não vai sair do canto. Basta ter sempre coisas boas por perto, e todo dia pensar: vou ler o que?  O fato de haver 100 vezes mais títulos disponíveis não me obriga a ler 100 vezes mais, apenas me ajuda a escolher melhor.

3 comentários:

Afonso Luiz Pereira disse...

Pois é, vivemos na era da informação e uma overdose de opções se apresenta diante de nós e, falando de leitura e literatura, há muita coisa pra ler para todos os gêneros e gostos. A ideia é, então, saber aproveitar este tempo com leitura de qualidade, o que nos remete a outro problema: fontes de resenhas e dicas comprometidas com os autores ou editoras que também explodem por todos os cantos virtuais. Pra quem quer conhecer autores ou livros novos é tanta material que você tem medo de jogar tempo e dinheiros fora com tanta coisa pra escolher.

Daniel Andrade disse...

Muito válida sua opnião, até por que quantidade não quer dizer qualide. Um autor que trata diretamente desse alto-fluxo informacional é José Ortega y Gasset em seu livro "a missão do bibliotecário", penso que esse o título. Penso até que mesmo com esse bum informacional via web 2.0 a melhor maneira de degustar, garimpar, bons títulos ainda seja uma boa visita a uma livraria, fisicamente falando.

Daniel Andrade disse...

seu texto ainda me recorda a viagem que passa pela cabeça de todo bibliotecário, pelo menos da maioria dos meus amigos: querer ler toda uma biblioteca kkkkkkkkkk