Escritor adora ler decálogos de estilo, manuais de
redação criativa, etc. Talvez isso se
deva ao fato de que inexiste qualquer teoria oficial sobre o ensino da
literatura. O que há são cem milhões de
teorias sugeridas por cem milhões de teóricos, e somente uma pequena parte
deles são escritores de fato.
Daí que os
decálogos sugeridos por escritores tenham pelo menos a virtude parcial de
estarem aparentemente explicando como foi que o autor Fulano chegou ao sucesso que
todos conhecemos.
Um decálogo de George
Orwell parece mais substancial do que um decálogo sugerido por um Zezim das
Couves qualquer, porque pelo menos pode-se inferir que foi a prática daquelas
regras que conduziu Orwell a tornar-se o escritor que foi.
James Thurber, o contista e humorista
norte-americano, autor de “A vida múltipla de Walter Mitty”, tem um pequeno
conjunto de regras; algumas delas se referem a questões específicas da língua
inglesa, mas as demais têm um piso mínimo de bom senso típico do modo
norte-americano de pensar. Diz ele:
“O leitor deve ser capaz de descobrir sobre o quê é a história de um romance, e alguma pista dessa idéia geral deve aparecer nas primeiras 500 palavras”.
Toda leitura de um
texto literário começa, idealmente, “no escuro”, sem que saibamos ao quê ele se
refere. Na prática não é assim, porque
aí estão as resenhas, as orelhas, os textos de contracapa; mas o próprio texto
literário precisa conter todas as informações necessárias à sua decifração.
Quem precisa dar essas pistas é o autor.
Mas há um conselho de Thurber que acho curioso,
porque não concordo. Diz ele:
“Tenho um enfado especial para com pessoas que escrevem frases de abertura sem ter nada em mente, e depois tentam criar uma história em torno delas. Essas frases, geralmente fáceis de localizar, são do tipo: ‘Mrs. Ponsonby nunca tinha antes colocado um cachorro dentro do forno”, ou então “Mrs. Dillingworth falou: -- Eu tenho uma árvore que dá vinhos, gostaria de vê-la?”, ou então: “Jackson decidiu, de repente, sem nenhuma razão especial, comprar um triciclo para sua esposa”.
Eu diria que situações assim
são um excelente estímulo para a imaginação; funcionam como um mote que o
próprio autor se fornece (com uma imagem surpreendente, uma situação fora do
comum) e vê-se obrigado a glosar da melhor maneira possível. Resta aguardar o resultado.
Nenhum método, por si, garante que resultará
em uma boa obra literária. Literatura
não é resultado do método, mas da aplicação do método ao tumulto mental de cada
pessoa em cada momento específico, o que é impossível de controlar. Quanto
procuramos os métodos, é porque queremos apenas equilibrar o tumulto.
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