domingo, 28 de fevereiro de 2010

1722) O massacre do apontador de lápis (18.9.2008)



Entre as muitas coisas que coleciono estão as notícias sobre a paranóia anti-terrorista nos EUA. O anti-terrorismo norte-americano trabalha em duas frentes simultâneas. A Frente Externa procura e combate os terroristas de fora, como os islâmicos da Al-Qaeda, responsáveis por atentados como o do World Trade Center. A Frente Interna combate o terrorismo apolítico dos próprios norte-americanos, cuja melhor expressão são os massacres inexplicáveis – um veterano do Vietnam que entra numa lanchonete e fuzila vinte pessoas, ou, mais tipicamente, um estudante que invade um prédio escolar e sai matando quem encontra pela frente. Até hoje não sei qual dos dois é mais absurdo, qual é mais perigoso, qual é mais invencível (pelo menos com as técnicas adotadas até agora).

O mais recente episódio na Frente Interna ocorreu em Hilton Head Island, na Carolina do Sul. Um estudante de dez anos foi visto pela professora segurando uma lâmina de metal. A professora chamou a supervisora. A supervisora chamou a polícia e avisou a mãe do suspeito. Todos se reuniram para investigar o incidente. O suspeito afirmou que, na véspera, a lâmina do seu apontador de lápis tinha quebrado, e ele resolveu trazer o pedaço, com cerca de 2 centímetros, para fazer a ponta do lápis durante a aula. A supervisora admitiu para o policial que o suspeito era um bom aluno e nunca havia se envolvido em qualquer incidente. Revistando a mochila do suspeito, o policial encontrou um pedaço de lápis com aproximadamente 2 centímetros e meio de comprimento, cuja ponta parecia ter sido feita recentemente. O policial registrou em seu relatório que a reação do suspeito (choro) deixava claro que ele compreendia a gravidade de trazer para o ambiente escolar qualquer objeto que pudesse se assemelhar a uma arma.

Pelo relatório do policial (que pode ser lido aqui: http://www.boingboing.net/2008/09/12/fourth-grader-suspen.html) julgo perceber o quanto ele procura levar o caso a sério para tranqüilizar a professora e a supervisora. Quanto a estas duas, espero não ser chamado de machista se achar que são apenas duas mulheres à beira de um ataque de nervos. Não é machismo. O mundo está cheio também de machões à beira de um ataque de nervos, por motivos ainda mais insignificantes do que este. E o mais patético é que nem mesmo esse clima kafkeano criado por pessoas super-zelosas e sem o menor bom-senso consegue evitar massacres como o da Virginia Tech.

É muito mais fácil pegar um inocente inofensivo do que um psicopata mal-intencionado. O excesso de vigilância acaba infernizando e enlouquecendo os 90% de inocentes, pegando em sua malha fina uns 9% de indivíduos problemáticos (e evitando os problemas que causariam) mas raramente consegue captar o 1% de sujeitos que saem de casa armados dos pés a cabeça, executando uma estratégia longamente planejada. Cabe às autoridades e à população decidir se essa relação custo-benefício interessa ou não.

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